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sábado, 26 de julho de 2025

Escrito por em 26.7.25 com 0 comentários

Stargirl

Eu costumo dizer que comecei a ler DC depois de velho; a razão é que, na minha adolescência, eu só comprava revistas da Marvel (e algumas da Image), e só lia histórias da DC muito raramente, quando algum amigo me emprestava. A primeira revista da DC que eu comprei foi Watchmen, quando a Editora Abril a relançou, em 1999, e somente depois dos 30 anos eu decidi passar a comprar encadernados das histórias mais famosas da DC para ler e guardar. Hoje, a maior parte da minha coleção ainda é Marvel, mas já posso incluir algumas histórias da DC dentre as minhas favoritas.

Se eu tivesse que escolher a minha favorita de todas, excluindo Watchmen, creio que escolheria a fase da Sociedade da Justiça escrita por Geoff Johns. Por várias vezes eu pensei em fazer um post sobre a Sociedade da Justiça só para falar dela, até que essa semana eu optei por algo parecido: falar sobre uma heroína criada por Johns, que é peça fundamental em sua passagem pela SJA. Hoje é dia de Stargirl no átomo.

Mas, antes de falar de Stargirl, é preciso voltar bastante no tempo, para falar um pouco sobre outro herói da DC, o Sideral. Criado por um dos co-criadores do Superman, o roteirista Jerry Siegel, em parceria com o desenhista Hal Sherman, Sideral, cujo nome em inglês era Star-Spangled Kid, era o adolescente milionário Sylvester Pemberton Jr., que decidiu assumir uma identidade secreta para combater o nazismo. Uma das suas principais características, entretanto, era que ele tinha um parceiro adulto, Pat Dugan, o motorista da família Pemberton, que usava o codinome Listrado (Stripesy em inglês), e o acompanhava em todas as missões, mas não tinha nada de figura paterna, tutor ou mentor, tratando Sideral como um igual e frequentemente discutindo com ele que o nome da dupla deveria ser "Listrado e Sideral" ao invés de "Sideral e Listrado", já que ele era mais velho. Em inglês, os nomes de Sideral e Listrado eram uma referência aos dois apelidos da bandeira dos Estados Unidos, Star-Spangled Banner (algo como "a faixa estrelada") e Stars and Stripes ("estrelas e listras").

Nem Sideral, nem Listrado tinham qualquer superpoder, mas ambos eram extremamente competentes no combate corpo a corpo, com Sideral sendo muito ágil e Listrado muito forte; seu treinamento consistia em criar acrobacias que tirassem o melhor de suas habilidades individuais agindo em conjunto, o que permitia que eles saíssem dando saltos e piruetas pelo campo de batalha enquanto nocauteavam seus inimigos. A dupla estrearia na revista Star Spangled Comics número 1, de outubro de 1941, e teria aventuras publicadas até a edição 86, de novembro de 1948 - com Robin passando a ser o astro da revista a partir da edição 87 - além de aparecer esporadicamente, entre 1942 e 1945, na World's Finest Comics, como parte das equipes Sete Soldados da Vitória e Comando Invencível. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e da Era de Ouro dos Quadrinhos, entretanto, os dois desapareceriam das publicações da DC, retornando apenas na década de 1970, quando foi revelado que os Sete Soldados da Vitória haviam ficado presos no passado durante uma aventura com viagem no tempo, sendo salvos pelo Lanterna Verde.

Sideral, então, se uniria à Liga da Justiça substituindo Starman, que estava se recuperando de ferimentos sofridos em uma missão, e passaria a usar seu Cajado Cósmico; quando Starman se recuperasse e voltasse à equipe, ele estudaria o Cajado e criaria um Cinturão que dava a ele os poderes de voo, projeção energética e transmutação da matéria. Sideral se aposentaria temporariamente da vida de super-herói para assumir os negócios do pai, que, como ele estava desaparecido, foram parar nas mãos de um sobrinho corrupto, mas retornaria em 1986, adulto, com o codinome de Skyman e liderando a equipe Corporação Infinito. Ele acabaria morto pelo vilão Sr. Bones dois anos depois, em 1988, e permanece morto desde então.

Dez anos depois, em 1998, Johns decidiria criar um novo personagem para assumir o manto de Sideral, e, com o desenhista Lee Moder, criaria Courtney Whitmore, que tinha o mesmo nome, aparência e personalidade da irmã do roteirista, Courtney Johns, que havia falecido aos 18 anos, em 1996, em um desastre aéreo. Nos quadrinhos, a mãe da adolescente Courtney se casa com Pat Dugan, e a família se muda de Los Angeles para a pequena Blue Valley, no interior do Nebraska. Ressentida pelo novo casamento da mãe e pela mudança de cidade, Courtney faz de tudo para atazanar Dugan, até que encontra o Cinturão e um antigo uniforme de Sideral dentre os pertences do padrasto, e decide vesti-lo para provocá-lo. Gostando de ser uma super-heroína e combater o crime, Courtney logo modifica o uniforme para uma versão mais feminina, e passa a enfrentar os maiores vilões de Blue Valley, com sua arqui-inimiga sendo Shiv, que também é adolescente, além de filha do vilão Rei Dragão. Como ela é iniciante e não tem as manhas da profissão, Dugan, que já está com mais de 40 anos e não tem mais a agilidade de outrora, decide criar uma armadura robótica, que chama de F.A.I.X.A., para poder acompanhar Courtney durante as missões.

Após uma aparição relâmpago na revista DCU Heroes: Secret Files & Origins número 1, de fevereiro de 1999, Courtney faria sua estreia oficial na Stars and S.T.R.I.P.E. número 0, de julho. Ela seguiria usando o codinome Sideral até 2003, quando receberia o Cajado Cósmico de Jack Knight, filho do Starman original (que se chamava Ted Knight) e segundo Starman; cansado da vida de super-herói, Jack decidiria se aposentar e, sem um herdeiro, consideraria Courtney a escolha perfeita para manter vivo o legado de Starman. Assim, após mais algumas aventuras, na JSA: All Stars número 4, de outubro de 2003, ela decidiria adotar o nome de Stargirl.

Além de viver aventuras solo, Courtney se tornaria membro da Sociedade da Justiça, se unindo a heróis veteranos como Pantera, Dr. Meia-Noite, Homem-Hora e os Lanterna Verde e Flash da Era de Ouro, e a novatos como Jakeem Thunder e o Esmaga-Átomo. Suas aventiras com a equipe seriam narradas principalmente nas revistas da Sociedade da Justiça, como Justice Society of America, JSA e JSA: All Stars, com algumas participações especiais em outras publicações, especialmente Trinity - a revista que tinha como protagonistas Superman, Batman e a Mulher Maravilha.

Ao longo de seus anos como membro da Sociedade da Justiça, Stargirl criaria uma inimizade com Solomon Grundy, que se tornaria obcecado por derrotá-la, e teria um relacionamento amoroso com o Capitão Marvel - extremamente criticado por ser "um adulto namorando uma adolescente", o Capitão Marvel decidiria desmanchar o romance e deixar a equipe, não querendo revelar que sua identidade secreta, Billy Batson, tinha mais ou menos a mesma idade de Courtney. Durante os eventos da Crise Infinita, Stargirl faria parte de uma equipe que reuniria alguns membros da Sociedade da Justiça, dos Jovens Titãs e da Patrulha do Destino que teria como missão impedir Superboy de destruir Smallville. Depois disso, ela desfaria sua parceria com F.A.I.X.A., se tornaria uma universitária, e faria uma modificação no Cajado para que ele pudesse encolher e ficar mais portátil, sendo carregado com ela durante todo o dia.

Durante a saga Um Ano Depois, apesar da pouca idade, Stargirl se tornaria uma espécie de mentora para super-heroínas mais jovens, como a Ciclone, neta da Tornado Vermelho original, e Rajada, filha do Raio Negro. Por causa disso, quando um racha dividiria a Sociedade da Justiça em duas, Stargirl seria convencida a integrar a equipe mais jovem, liderada pela Poderosa, mesmo se sentindo mais à vontade dentre os membros mais velhos.

Então viria a saga Os Novos 52, que faria um reboot no Universo DC, e Stargirl passaria a ser membro da Liga da Justiça, vivendo aventuras nas revistas Justice League of America e Justice League United. Nessa nova versão, ela já é Stargirl desde o início, tendo encontrado o uniforme e o Cajado dentre os pertences de Dugan após ele se casar com sua mãe, e a princípio os usando para ficar famosa na internet. Ela seria escolhida por Amanda Waller para ser a relações-públicas da equipe, e estaria dentre os heróis que enfrentariam o Dr. Manhattan na Lua, dando origem à saga Renascimento. A principal aventura de Stargirl pós-Renascimento seria a minissérie Stargirl: The Lost Children, em 6 edições lançadas entre janeiro e julho de 2023, com roteiro de Johns e arte de Todd Nauck, na qual ela deve resgatar 13 parceiros de heróis que foram removidos da Linha do Tempo pelos Mestres do Tempo.

E agora chega a parte em que eu confesso que decidi escrever esse post sobre Stargirl não somente por causa de sua carreira nos quadrinhos, mas principalmente por causa de sua série de TV. Criada por Johns, a série seria originalmente produzida para o serviço de streaming DC Universe, criado pela Warner Bros., dona da DC Comics, não somente para a exibição de filmes e séries, mas também para a disponibilização em formato digital de revistas em quadrinhos da DC - pagando apenas uma mensalidade, os assinantes teriam acesso aos quadrinhos digitais, a filmes e séries antigos com personagens da DC, e a novas produções, criadas especificamente para o serviço. Stargirl seria a quarta série inédita com atores de carne e osso do DC Universe, após Titãs, Patrulha do Destino e Monstro do Pântano.

Na série, após combater o crime ao lado de Pat Dugan como Sideral e Listrado, tanto como uma dupla quanto como membro dos Sete Soldados da Vitória, Sylvester Pemberton recebe o Cajado Cósmico das mãos de Ted Knight, passa a adotar o nome de Starman e se une à Sociedade da Justiça. Um dia, a Sociedade é atraída para uma emboscada por seus maiores inimigos, a Sociedade da Injustiça da América (sério, quem é que inventa para si mesmo um nome desses? Só não é pior que Brotherhood of Evil Mutants) e todos são mortos, exceto Listrado, que, após uma briga com Starman, fica "de castigo" no quartel general da equipe, somente chegando quando já é tarde demais para salvá-los. Na mesma noite, uma Courtney Whitmore ainda criança espera, em vão, pela chegada de seu pai, que nunca mais aparece, deixando sua mãe sozinha para criá-la.

Dez anos se passam, e Courtney está levemente insatisfeita, não somente porque sua mãe decidiu se casar de novo, com Dugan, que já tem um filho de um relacionamento anterior, mas também porque ela decide aceitar uma sugestão do novo marido e ir morar na minúscula Blue Valley, no interior do Nebraska, completamente diferente da enorme Los Angeles onde Courtney cresceu. Por uma dessas coincidências que só ocorrem nesses casos, Blue Valley também é a sede de operações da Sociedade da Injustiça, que, após eliminar a Sociedade da Justiça, passou a viver escondida à plena vista, com seus membros se tornando cidadãos responsáveis e valiosos para a comunidade - mas isso também sendo parte de um plano, segundo o qual eles usarão um equipamento eletrônico para controlar as mentes dos habitantes de grande parte do país.

Courtney descobre esse plano acidentalmente, após encontrar por acaso o Cajado Cósmico dentre os pertences de Dugan. Inativo desde a morte de Starman, o Cajado estabelece uma ligação com Courtney, o que leva a menina a, após confrontar Dugan e descobrir a história da morte da Sociedade da Justiça, concluir que seu pai desaparecido era ninguém menos que Starman. Assim, ela decide modificar um uniforme antigo de Starman, e usar ele e o cajado para se tornar Stargirl - mas, como a ameaça da Sociedade da Injustiça é grande demais para ela combater sozinha, ela decide recriar a Sociedade da Justiça, entregando equipamentos como a máscara do Pantera, a ampulheta do Homem-Hora e os óculos do Dr. Meia-Noite para seus amigos de escola, que passam a combater o crime a seu lado. Usando uma armadura robótica que Courtney chama de F.A.I.X.A., Dugan também auxilia a equipe, embora Courtney constantemente rejeite seu papel de mentor do grupo, se vendo como a líder.

Johns seria consultor e um dos principais roteristas da série, escrevendo o piloto, o segundo episódio e o último da primeira temporada. Ele declararia querer fazer uma série de aventura adolescente semelhante em tom a produções dos anos 1980 como E.T.: O Extra-Terrestre e De Voilta para o Futuro, mostrando os novos membros da Sociedade da Justiça aprendendo a usar seus poderes ao mesmo tempo em que passam por provações típicas da adolescência, como bullying, dificuldades de relacionamento com os pais e pressão social. A decisão de matar os membros originais da Sociedade da Justiça seria tomada para que os novos não vivessem à sua sombra, embora respeitassem seu legado, e para que os espectadores não ficassem frequentemente se perguntando coisas como "por que o Lanterna Verde e o Flash não ajudaram nessa batalha?".

O elenco principal conta com Brec Bassinger como Courtney Whitmore / Stargirl; Yvette Monreal como Yolanda Montez, colega de escola de Courtney atlética e determinada, mas de família conservadora, que vê sua vida desmoronar após fotos íntimas serem divulgadas online, e é escolhida para receber a máscara do Pantera; Anjelika Washington como Beth Chapel, menina estudiosa com dificuldades de relacionamento na escola e com os pais, que entra para a equipe após surrupiar os óculos do Dr. Meia-Noite; Cameron Gellman como Rick Tyler, filho do Homem-Hora original, ressentido por ter sido criado por um tio abusivo após seus pais morrerem no que aparentemente havia sido um acidente, e que entra em uma espiral de vingança após descobrir que eles foram mortos pela Sociedade da Injustiça, usando a ampulheta do Homem-Hora, que confere uma hora de superpoderes por dia, para enfrentá-los; Meg DeLacy como Cindy Burman / Shiv, garota mais popular da escola e filha do Rei Dragão, que fez vários experimentos bizarros em seu corpo ao longo de sua vida, que logo se torna rival de Courtney e arqui-inimiga de Stargirl; Jake Austin Walker como Henry King, Jr., capitão do time de futebol americano da escola, ex-namorado de Yolanda, atual de Cindy, e filho do vilão Onda Mental, mas que acha que o pai é apenas um bem-sucedido médico; Trae Romano como Mike, filho de Dugan cuja mãe é ausente e tem como maior desejo se unir à nova Sociedade da Justiça para provar ao pai que é útil; Hunter Sansone como Cameron Mahkent, menino sensível e artístico por quem Courtney fica interessada romanticamente, sem saber que ele é filho do vilão Geada; Amy Smart como Barbara Whitmore, mãe de Courtney; e Luke Wilson como Pat Dugan / Listrado.

A Sociedade da Injustiça é liderada por Jordan Mahkent / Geada (Neil Jackson), que tem o poder de congelar o ar a seu redor, e posa como um bem-sucedido empresário, CEO da American Dream, onde Barbara trabalha, que tem um ambicioso plano de revitalização de Blue Valley. Seus demais membros são Henry King, Sr. / Onda Mental (Christopher James Baker), que tem o poder de controlar as mentes alheias e é um dos médicos mais respeitados da cidade; Lawrence Crock, apelido Crusher (Neil Hopkins), e sua esposa, Paula Brooks (Joy Osmanski), que posam como donos de uma academia de ginástica, mas são na verdade os vilões Mestre dos Esportes e Tigresa; Stephen Sharpe / Jogador (Eric Goins), mestre das probabilidades e responsável por gerir as finanças da equipe; o Dr. Shiro Ito / Rei Dragão (Nelson Lee), cientista mestre da genética vivo há centenas de anos graças a inúmeras modificações que fez em seu corpo; Anaya Bowin / Violinista (Hina X. Khan), diretora da escola onde Courtney e seus amigos estudam, capaz de realizar vários efeitos sinistros com os sons de seu violino; William Zarick / Mago (Joe Knezevich), atualmente um vereador, anteriormente um mágico profissional, que tinha poderes mágicos sem que ninguém soubesse; e Solomon Grundy, um morto-vivo gigantesco, pouco racional e extremamente forte, que Geada consegue controlar, mas cujas origens jamais são explicadas.

Já a Sociedade da Justiça original, que aparece em flashbacks, conta com Sylvester Pemberton / Starman (Joel McHale), Ted Grant / Pantera (Brian Stapf), Charles McNider / Dr. Meia-Noite (Henry Thomas, que também faz a voz da inteligência artificial dos óculos do herói, a quem Beth chama de "Chuck"), e Rex Tyler / Homem-Hora (Lou Ferrigno, Jr.). Outros personagens que merecem ser citados são os pais de Beth, James Chapel (Gilbert Glenn Brown), que trabalha na American Dream, e a Dra. Bridget Chapel (Kron Moore), que trabalha no mesmo hospital que Onda Mental; Artemis Crock (Stella Smith), filha do Mestre dos Esportes e de Tigresa e ás dos esportes, cotada para ser a primeira quarterback feminina em um time de futebol americano universitário; Isaac Bowin (Max Frantz), filho da Violinista, com aptidão para vários instrumentos musicais; Joey Zarick (Will Deusner), filho do Mago, que fica amigo de Courtney; Denise Zarick (Cynthia Evans), esposa do Mago e mãe de Joey; Zeek (King Orba), mecânico amigo de Dugan que acaba descobrindo acidentalmente que é ele quem pilota o F.A.I.X.A. e se tornando um membro não-oficial da nova Sociedade da Justiça; Justin (Mark Ashworth), o zelador da escola, que tem amnésia e um segredo em seu passado; Matt Harris (Adam Aalderks), tio de Rick, que o criou; os pais de Geada, Sofus (Jim France) e Lily Mahkent (Kay Galvin); e Maria (Maria Sager), a garçonete do diner da cidade, onde Yolanda trabalha e os demais personagens costumam se encontrar, de propósito ou acidentalmente.

Johns diria que a parte mais difícil da produção seria a escolha da atriz que interpretaria Courtney, com centenas sendo testadas, e ele tendo certeza de que a novata Brec Bassinger era perfeita para o papel assim que viu seu teste. A equipe de figurinos tentaria fazer os uniformes o mais parecidos possível com os dos quadrinhos, mudando apenas detalhes que prejudicassem os movimentos dos atores. As filmagens ocorreriam na região metropolitana de Atlanta, com quase todos os locais e prédios de Blue Valley existindo em pequenas cidades da região, como Marietta, Duluth e Lithia Springs; as cenas em estúdio seriam gravadas em Dallas. O treinador de dublês Walter Garcia seria contratado especificamente para trabalhar com Bessinger e suas dublês, fazendo as coreografias de suas cenas de luta com o intuito de que o Cajado parecesse vivo e ajudando Courtney em seus movimentos, ao invés de simplesmente uma arma empunhada por ela.

Os efeitos especiais ficariam a cargo da Zoic Studios; a pedido de Johns, Stargirl seria a primeira série para a TV produzida pela Warner a usar o recurso da previsualização, normalmente reservado para produções de cinema, já que aumenta o custo final, mas que permitiu que a série tivesse "efeitos jamais vistos em séries de super-heróis". Os dois maiores destaques seriam o Cajado Cósmico, que existia em uma versão cenográfica, mas era alterado digitalmente na pós-produção, e Solomon Grundy, que era um personagem 100% digital. O robô F.A.I.X.A., assim como o Cajado, existia em uma versão cenográfica, criada pela Legacy Effects, que tinha movimentos limitados e contracenava com os atores, mas cenas que envolviam movimentos mais complexos, ou nas quais ele aparecia voando, usavam um modelo digital inserido na pós-produção.

Stargirl estrearia no DC Universe em 18 de maio de 2020, com um total de 13 episódios, um lançado por semana até 10 de agosto; através de um acordo, o canal a cabo The CW também exibiria os episódios, com cada um estreando no dia seguinte ao de sua disponibilização no streaming - cada episódio no CW, porém, tinha alguns minutos a menos em relação aos do streaming, para que pudessem ser exibidos comerciais, com Johns supervisionando quais cenas poderiam ser cortadas sem que a história fosse prejudicada. A partir de 1 de dezembro de 2020, a série também seria disponibilizada como parte do catálogo do novo serviço de streaming da Warner, o HBO Max. A Warner jamais divulgou os números da audiência no streaming, mas no CW eles eram excelentes, rivalizando com os das séries do Arrowverso, carro-chefe do canal na época.

Em junho de 2020, porém, pouco após a estreia de Stargirl, a Warner decidiria descontinuar o DC Universe, que sairia totalmente do ar em 21 de janeiro de 2021, criando um novo serviço de quadrinhos digitais, chamado DC Universe Infinite, e movendo todos os seus filmes e séries, originais ou não, para o HBO Max, que havia estreado em 27 de maio de 2020, uma semana após a estreia de Stargirl. Com essa decisão, Stargirl, assim como havia ocorrido com Monstro do Pântano um ano antes, seria cancelada após apenas uma temporada, com apenas Patrulha do Destino e Titãs seguindo em produção para serem exibidas na HBO Max. O CW, entretanto, estava tão satisfeito com a audiência de Stargirl que faria à Warner uma proposta: financiaria a produção de uma segunda temporada, desde que ela fosse exibida com exclusividade pelo canal a cabo.

Assim, em 10 de agosto de 2021, estrearia no CW a segunda temporada, com o título de Stargirl: Summer School ("curso de verão", a "recuperação" nas escolas dos Estados Unidos, onde os alunos que não passaram de ano, como Courtney, têm de frequentar aulas especiais durante as férias de verão) e 13 novos episódios, exibidos um por semana até 2 de novembro. A temporada completa seria disponibilizada na HBO Max em 10 de dezembro, mas, dessa vez, não haveria diferenças entre os episódios exibidos no streaming e na TV.

Após a Sociedade da Injustiça ter sido desmantelada na primeira temporada, na segunda a ameaça é o vilão Eclipso, banido anos atrás para uma dimensão paralela pela Sociedade da Justiça original, e que agora busca se utilizar do desejo de vingança de Cindy contra Courtney para escapar. Para detê-lo, a nova Sociedade da Justiça terá um aliado improvável, o vilão Penumbra, que saiu da Sociedade da Injustiça após se desentender com Geada, usa fumaça e sombras para se teletransportar e atacar seus inimigos e compartilha uma ligação com a dimensão para onde Eclipso foi banido.

Novos nomes da segunda temporada incluem Nick E. Tarabay como Eclipso; Jonathan Cake como Richard Swift / Penumbra; Ysa Penarejo como Jennifer-Lynn Hayden / Jade, filha do Lanterna Verde original, que usa o anel do pai e vem a Blue Valley tentando encontrar seu irmão desaparecido; Alkoya Brunson como Jakeem Williams, colega de Mike na escola e como entregador de jornais; Randy Havens como Paul Deisinger, professor de artes na escola de Courtney; Keith David como o Sr. Bones, que tem a pele transparente e cujo toque pode matar qualquer ser vivo; e Lynne Ashe como a Enfermeira Louise Love, que trabalha para uma instituição onde Jade acredita que seu irmão está sendo mantido contra a sua vontade. Outros membros da Sociedade da Justiça original que aparecem em flashbacks são Jay Garrick / Flash (John Wesley Shipp), Johnny Trovoada (Ethan Embry) e seu parceiro, o gênio Relâmpago (voz de Jim Gaffigan). Alicia Witt faz uma participação especial como a mãe de Mike, Maggie, e Alex Collins substituiria Henry Thomas como Chales McNider / Dr. Meia-Noite.

A primeira temporada de Stargirl já havia sido aclamada pela crítica, que elogiaria principalmente o texto de Johns, as atuações de Bassinger e Wilson e o clima leve dos episódios, diferente das demais produções de super-heróis da época; a segunda temporada traria um clima mais pesado, mas mais uma vez seria aclamada, com o tom mais adulto sendo considerado uma evolução natural em relação ao que havia sido mostrado um ano antes. Antes mesmo da estreia da segunda temporada, a CW conseguiria um acordo com a Warner, que garantia não somente sua exibição na HBO Max, mas também uma parceria no financiamento de uma terceita temporada - como o último episódio da segunda ainda não havia sido filmado, Johns aproveitaria e incluiria uma cena que já preparava o terreno para a terceira, estabelecendo qual seria sua história.

Basicamente, a terceira temporada lidaria com a redenção dos vilões: após Penumbra decidir abrir mão de suas atividades criminosas e se estabelecer como um cidadão respeitável de Blue Valley; Crusher e Paula abandonam suas vidas duplas, se mudam para a casa vizinha à de Courtney e fazem de tudo para serem os novos melhores amigos de Dugan e Barbara; Cindy e Artemis (usando os equipamentos do pai e o nome de Mestra dos Esportes) decidem se unir à nova Sociedade da Justiça; o Jogador decide abrir mão de seus esquemas fraudulentos e investir seu dinheiro para reencontrar sua filha e fazer as pazes com ela; e até mesmo Geada retorna se dizendo arrependido e querendo reparar os erros que cometeu como líder da Sociedade da Injustiça. Mas o assassinato do Jogador joga uma sombra sobre os vilões redimidos, levando a crer que pelo menos um deles não abandonou seus antigos hábitos, e fazendo com que a Sociedade da Justiça tenha de encontrar o assassino. Paralelamente a isso, Mike e Jakeem, que acidentalmente se torna o novo parceiro de Relâmpago, se ressentem por não poderem fazer parte da Sociedade da Justiça, tentando formar sua própria equipe, o Comando Juvenil; e Starman aparentemente retorna dos mortos, passando a compartilhar o cajado com Courtney e a trazer muita tensão para o relacionamento dela com Dugan, que ele ainda vê como seu parceiro.

Com o nome de Stargirl: Frenemies (algo como "aminimigos"), a terceira temporada, de mais 13 episódios, seria exibida pelo CW entre 31 de agosto e 7 de dezembro de 2022, e disponibilizada na HBO Max em 6 de janeiro de 2023. Os únicos novos nomes de peso do elenco são Tïm Gabriel como Todd Rice / Obsidiano, o irmão de Jade; e Seth Green, que substituiria Gaffigan como a voz de Relâmpago, que seria mais um personagem totalmente digital. A terceira temporada não conseguiria manter os mesmos níveis de audiência das duas primeiras, e seria considerada bastante inferior a elas pela crítica, que reclamaria dos clichês do "quem matou" e do "retorno dos mortos"; por causa disso, enquanto ela ainda estava no ar, o CW cancelaria a série, não renovando-a para uma quarta temporada.

Johns ficaria decepcionado com o cancelamento, principalmente porque, devido a uma cena de um dos episódios da primeira temporada ter aparecido no crossover do Arrowverso Crise nas Infinitas Terras, em janeiro de 2020, ele tinha esperança de escrever um episódio crossover entre as séries Stargirl e The Flash - com Bassinger declarando em entrevistas que gostaria de ver Stargirl e Supergirl lutando lado a lado, para que ela pudesse contracenar com Melissa Benoist, e Shipp sendo escolhido especificamente para interpretar o Flash na segunda temporada de Stargirl por já ter interpretado Garrick em The Flash, estabelecendo uma ligação entre as duas séries. Johns ainda tentaria convencer a Warner a financiar uma quarta temporada para exibição na HBO Max, mas desisitiria após ser informado de que isso poderia fazer com que o crossover com The Flash ficasse ainda mais difícil, já que o Arrowverso era produzido pelo CW sem interferência direta da Warner. O máximo em matéria de crossover que ele conseguiria seria Bassinger interpretar Stargirl em um episódio da quarta temporada de Titãs.

Como o cancelamento ocorreria após todos os episódios da terceira temporada já terem sido filmados, a história ficaria com algumas pontas soltas; Johns conseguiria, entretanto, autorização do CW para filmar uma nova cena final para o último episódio, ambientada muitos anos no futuro, e, dos atores da série, contava apenas com a participação de Cake - mas ajudava a deixar claro que a Sociedade da Justiça fundada por Courtney se tornaria uma força do bem não só em Blue Valley mas em todo o planeta, alcançando um legado comparável ao da equipe original.
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sábado, 11 de janeiro de 2025

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Blade (I)

Eu gosto muito dos filmes do Blade, da Marvel, e faz um tempo já que quero escrever um post sobre eles; ao pensar essa semana em colocar essa ideia em prática, achei que faria sentido se, antes de falar dos filmes, eu falasse sobre o personagem nos quadrinhos, em mais um post sa categoria super-heróis. Hoje, portanto, é dia de Blade no átomo, e semana que vem também, com essa semana o foco sendo os quadrinhos e, semana que vem, os filmes.

Blade foi uma criação do roteirista Marv Wolfman, com aparência criada pelo desenhista Gene Colan. No final da década de 1960, Wolfman, que depois ficaria conhecido por criar a equipe mais famosa dos Jovens Titãs, trabalhava na DC, justamente na revista dos Titãs, quando propôs à editora introduzir um personagem negro na equipe, que contava com Robin, Kid Flash, Ricardito e a Moça-Maravilha, todos brancos. Segundo ele, não fazia sentido existirem tantas pessoas negras nas escolas, nos postos de trabalho, em todos os setores da sociedade, e tão poucos super-heróis negros. A DC concordaria e ele começaria a trabalhar no personagem, mas, de repente, sem explicação, ele seria avisado de que o projeto estava encerrado e o super-herói negro não estrearia na revista. Ele acabaria esquecendo essa ideia e trocando a DC pela Marvel em 1972, levado pelo editor Roy Thomas, que, em 1973, o colocaria a cargo da revista de terror Tomb of Dracula. Segundo Wolfman, assim que começou a trabalhar na revista, o personagem Blade surgiria em sua mente, já com nome, história, poderes, tudo, como se estivesse apenas esperando uma oportunidade.

Colan, o responsável pela arte da revista, não receberia muita informação sobre o personagem além de "é um super-herói negro", e criaria praticamente sozinho seu visual, usando como modelo o ator e ex-jogador de futebol americano Jim Brown. A jaqueta de couro e os óculos escuros, os dois elementos mais característicos de Blade, foram criação de Colan, mas Wolfman pediria que ele adicionasse uma bandoleira, aquela faixa em volta do tronco cheia de balas extras para armas de fogo, que, no caso de Blade, traria estacas. Em suas primeiras aparições, aliás, ele não usaria armas de fogo, apenas facas e estacas.

Blade faria sua estreia na revista Tomb of Dracula 10, de julho de 1973, e seria o principal antagonista de Drácula na revista até a edição 30, de março de 1975. Seria o próprio Wolfman quem acharia que ele estava roubando a cena, com a revista do Drácula praticamente se tornando uma revista do Blade, e decidiria deixar o personagem de lado, investindo em outros coadjuvantes; ele também não estava satisfeito com a forma como Blade estava sendo retratado, achando que ele parecia apenas mais um estereótipo de homem negro, principalmente em seus diálogos. Wolfman deixaria Blade de fora da revista por quase um ano, trazendo-o de volta na edição 41, de fevereiro de 1976, em uma história em oito partes. Ele ainda seria presença frequente na revista até seu cancelamento, na edição 70, de agosto de 1979.

Nessa segunda passagem, Blade já não seria um caçador de vampiros solitário, e sim o líder de uma equipe que contava também com Quincy Harker, filho de Jonathan Harker, treinado pelo famoso caçador de vampiros Abraham Van Helsing para ser seu sucessor; Rachel Van Helsing, neta de Abraham, treinada por Quincy para ser uma caçadora de vampiros desde a infância, quando Drácula matou seus pais; e Frank Drake, um descendente de Drácula, através de um matrimônio que o Conde contraiu antes de se tornar vampiro, que decidiu dedicar sua vida a livrar o mundo do mal causado por seu antepassado. Todos esses personagens estreariam na Tomb of Dracula antes de Blade, sendo coadjuvantes frequentes, com apenas Quincy tendo sido também criado por Wolfman - Rachel seria criada por Archie Goodman, Frank por Gerry Conway. Outro personagem recorrente famoso da Tomb of Dracula era o vampiro Deacon Frost, também criado por Wolfman e Colan, que nos anos seguintes se tornaria o arqui-inimigo de Blade.

Originalmente, Blade não tinha nenhum superpoder, sendo apenas um humano comum imune ao gene do vampirismo, o que significava que, mesmo que mordido, ele não seria transformado. Após Drácula matar sua mãe, ele se aproveitaria desse fato para se dedicar a se tornar o maior caçador de vampiros do mundo, com caçar e matar Drácula se tornando o teste final para suas habilidades. Blade tinha sérios problemas de atitude, dificuldade para trabalhar com outras pessoas, e era extremamente fanático na caça aos vampiros, colocando sua própria segurança e a de quem estava junto com ele em risco se isso o possibilitasse matar mais um vampiro.

No início da década de 2000, entretanto, essa história seria alterada, e Blade se tornaria um dhampir, uma criatura do folclore dos Balcãs que é o resultado de uma união entre um vampiro e uma humana. Ao longo dos anos, sua história seria alterada várias vezes, com a versão mais famosa sendo a de que seu pai era um vampiro e sua mãe era humana, mas, na versão oficial, criada por Christopher Hinz baseada na história do filme, a mãe de Blade foi morta por uma mordida de Frost enquanto estava grávida, o que fez com que enzimas vampíricas passassem para o bebê, que nasceu mesmo após a morte da mãe e com alguns poderes dos vampiros. Ele também se tornaria mais taciturno, introvertido, e menos fanático.

Outro detalhe que mudou foi que, quando criado por Wolfman, o nome do personagem era Frank Blade, sendo Blade ("lâmina", em inglês) não um codinome, mas o sobrenome do personagem; nos anos 1990, o nome de Blade alternaria entre Eric Cross e Eric Brooks, até Hinz definir que seu nome original era Eric Cross-Brooks, filho de Lucas Cross, um nativo da Latvéria, e Tara Brooks, uma prostituta norte-americana com quem ele teve um caso num bordel. Eric começaria seu treinamento como caçador de vampiros aos 9 anos, após ajudar um outro caçador de vampiros chamado Jamal Afari (mais tarde renomeado para Abraham Whistler) a derrotar três deles enquanto voltava da escola. Sob o treinamento de Whistler, Eric aprenderia a usar seus poderes na caça aos vampiros, além de se tornar um atleta de nível olímpico e um mestre no uso de facas e adagas - que o levaria a ser conhecido como Blade dentre os demais caçadores de vampiros.

Sendo "meio-vampiro", Blade tem força, agilidade, velocidade e vigor muito superiores aos de um ser humano normal, mas ainda não no mesmo nível de um vampiro "verdadeiro"; sentidos de visão, audição e olfato ampliados; cura acelerada; imunidade a mordidas e ao hipnotismo dos vampiros; envelhecimento retardado (oficialmente ele nasceu em 1929); e um sexto-sentido que permite que ele identifique criaturas sobrenaturais. Em algumas histórias, ele precisa se alimentar de sangue, mas, em outras, pode consumir qualquer alimento; da mesma forma, em algumas histórias ele reflete em espelhos, em outras, como um vampiro, não. Mas uma característica que jamais foi alterada é que, ao contrário dos vampiros, Blade pode andar à luz do dia, não sofrendo qualquer efeito da luz do sol, o que lhe rendeu dentre os vampiros o apelido de daywalker, o "andarilho do dia".

Blade faria bastante sucesso na Tomb of Dracula, mas não seria um personagem fácil de integrar ao restante do Universo Marvel: sua única aparição contracenando com os, digamos, personagens mainstream seria enfrentando Morbius, o Vampiro Vivo, na Adventure Into Fear 24, de outubro de 1974, com roteiro de Steve Gerber e arte de P. Craig Russell. Em dezembro do mesmo ano e em fevereiro de 1975, ele ganharia histórias nas edições 8 e 9 da revista Vampire Tales, em formato maior, em preto e branco e dedicada ao público adulto, a primeira por Wolfman, a segunda por Wolfman e Chris Claremont, ambas com arte de Tony DeZuniga. Claremont começaria a escrever uma nova história do personagem para a Vampire Tales, mas, após seu cancelamento, a expandiria, e a Marvel decidiria publicá-la na Marvel Preview 3, de setembro de 1975, com arte de DeZuniga e Rico Rival. Blade ainda faria outra participação nessa revista, na edição 8, de setembro de 1976, com uma história de Wolfman e Colan.

Após o cancelamento da Tomb of Dracula, porém, Blade desapareceria completamente. Considerado um personagem datado e sem que nenhum roteirista se animasse a utilizá-lo, ele ficaria mais de dez anos longe dos quadrinhos, até retornar na Doctor Strange: Sorcerer Supreme 9, de novembro de 1989, em uma história por Roy e Dann Thomas que trazia de volta vários dos personagens Marvel de horror da década de 1970, como Drácula, o Lobisomem e Mordred. A participação seguinte seria em agosto de 1992, na Ghost Rider 28, como parte de uma equipe chamada Filhos da Meia-Noite, da qual também faziam parte Morbius e os dois Motoqueiros Fantasmas da época (Johnny Blaze e Danny Ketch). Essa equipe participaria de uma história em cinco partes, as quatro primeiras nas edições 28 a 31 de Ghost Rider, a quinta no primeiro número da nova revista Nightstalkers, de novembro de 1992. Entre novembro de 1993 e março de 1994, Blade também participaria de uma história em quatro partes na Doctor Strange: Sorcerer Supreme.

A Nightstalkers seria cancelada na edição 18, em abril de 1994, mas isso seria uma coisa boa, pois, em julho, continuando a história, Blade finalmente ganharia sua própria revista, chamada Blade: The Vampire Hunter, com roteiros de Ian Edginton e arte de Doug Wheatley, na qual o antagonista era, mais uma vez, Drácula. Infelizmente, a revista teria péssimas vendas, e seria cancelada após apenas dez edições, em abril de 1995. Nesse meio-tempo, ele também participaria da revista trimestral Midnight Sons Unlimited, que teve 9 edições, publicadas entre abril de 1993 e maio de 1995. Suas aparições seguintes seriam em uma história da edição especial em preto e branco Marvel Shadows and Light, de fevereiro de 1997, e como estrela de duas outras edições especiais, Blade: Crescent City Blues, de março de 1998, com roteiro de Christopher Golden e arte de Colan, e Blade: Sins of the Father, de outubro de 1998, com roteiro de Marc Andreyko e arte de Bart Sears.

1998 também seria o ano de estreia do primeiro filme de Blade, e a Marvel anunciaria o lançamento de uma nova série regular, chamada apenas Blade, cujo primeiro número saiu em novembro daquele ano. Essa série traria o selo Strange Tales, assim como Man-Thing, estrelada pelo Homem-Coisa, lançada em outubro de 1997, que teve oito edições, e Werewolf by Night, estrelada pelo Lobisomem, lançada em fevereiro de 1998, que teve apenas seis edições - uma outra série do mesmo selo, estrelada por Satana, foi anunciada, mas jamais lançada. Infelizmente, o final dos anos 1990 foi uma época extremamente complicada financeiramente para a Marvel, que quase faliu; por causa disso, na edição 2 foi anunciado que a Blade não seria uma série regular, mas uma minissérie em seis edições, que acabaria tendo apenas três, sendo cancelada após a lançada em janeiro de 1999.

Mas o filme tornaria o personagem novamente popular, e a Marvel decidiria arriscar uma nova minissérie em seis edições, chamada Blade: Vampire Hunter com roteiro e arte de Sears, publicada entre dezembro de 1999 e maio de 2000, além de uma edição 1/2, publicada em janeiro de 1999. Em seguida seria lançada a minissérie de Hinz, que redefiniria o personagem, chamada simplesmente Blade, em seis edições entre maio e outubro de 2002, parte do selo Marvel MAX, com histórias voltadas a um público mais adulto - trazendo, inclusive, um aviso de "conteúdo explícito" na capa. Em 2005, seria lançada a edição especial Blade: Nightstalking, com roteiro de Jimmy Palmiotti e Justin Gray e arte de Amanda Conner, baseada nas histórias dos filmes, e em novembro de 2006 seria a vez de uma nova série regular, mais uma vez chamada Blade, com roteiro de Marc Guggenheim e arte de Howard Chaykin - que novamente não teria boas vendas e seria cancelada na edição 12, de outubro de 2007.

Em 2008, Blade faria parte de uma equipe reunida pelo Capitão Bretanha, na revista Captain Britain and MI:13, formada para combater a Invasão Secreta dos skrulls, mas que também combatia Drácula e seu exército de vampiros. Ambientada na Inglaterra, com roteiros de Paul Cornell e arte de Leonard Kirk, a revista não teria boas vendas, e seria cancelada após 15 edições, publicadas entre julho de 2008 e setembro de 2009. Após quase cinco anos sumido, Blade voltaria como membro dos Poderosos Vingadores, sendo um personagem recorrente na Mighty Avengers, que teria 14 edições publicadas entre novembro de 2013 e novembro de 2014. Em 2015, a Marvel anunciaria uma nova revista de Blade, com roteiros de Tim Seeley e arte de Logan Faerber, na qual ele atuaria ao lado de sua filha; esse projeto seria cancelado em outubro, entretanto, sem que nenhuma edição fosse lançada.

Blade voltaria em uma nova versão dos Filhos da Meia-Noite, ao lado de Hellstorm, Satana e do Motoqueiro Fantasma, na minissérie Spirits of Vengeance, com roteiros de Robbie Thompson e arte de Anthony Piper, em cinco edições publicadas entre dezembro de 2017 e abril de 2018. Em janeiro de 2019, ele se uniria aos Vingadores, participando de quase 30 edições da revista Avengers. Paralelamente a isso, Blade formaria outra equipe, na revista Strikeforce, com roteiros de Tini Howard e arte de Germán Peralta, atuando em segredo para deter uma ameaça sobrenatural, em 9 edições publicadas entre novembro de 2019 e outubro de 2020. E os Filhos da Meia-Noite, agora compostos por Blade, Magia, Wolverine, Dr. Vodu, Kushala e Nico Minoru, voltariam na minissérie Midnight Suns, com roteiros de Ethan Sacks e arte de Luigi Zagaria, em cinco edições lançadas entre novembro de 2022 e março de 2023.

Em 2023 a Marvel retomaria a ideia de oito anos antes, de que Blade deveria enfrentar vampiros ao lado de sua filha, e lançaria a minissérie Bloodline: Daughter of Blade, em cinco edições lançadas entre abril e agosto, com roteiros de Danny Lore e arte de Karen S. Darboe, na qual a jovem Brielle Brooks, apelido Bri, descobre ter os mesmos poderes do pai, e decide usá-los para caçar vampiros. O sucesso da minissérie levaria ao lançamento de uma nova série regular chamada Blade, com a presença de Blade e Bri, em setembro de 2023, publicada até hoje. E, em 2024, Blade foi peça fundamental na saga Blood Hunt, na qual vampiros ameaçam o Universo Marvel, sendo um dos protagonistas de uma minissérie de mesmo nome em cinco edições quinzenais lançadas entre julho e setembro.

Além dos quadrinhos e dos filmes, Blade foi astro de uma série de TV, exibida nos Estados Unidos no canal a cabo Spike TV, que negociaria os direitos com a Marvel em 2005, dando luz verde para a série em fevereiro de 2006. Blade: The Series teria como showrunner David S. Goyer, responsável pelos roteiros dos três filmes, que comentaria que a série daria a ele uma maior oportunidade para trabalhar o submundo dos vampiros, já que eles poderiam ter mais tempo de tela do que nos filmes. Curiosamente, o chefe da equipe de roteiristas seria o também roteirista de quadrinhos Geoff Johns, que ficaria famoso por seus roteiros não na Marvel, mas na DC, onde revitalizaria a Sociedade da Justiça - sendo hoje o principal produtor dos filmes da DC para o cinema.

Wesley Snipes, que interpretou o caçador de vampiros nos filmes, não aceitaria repetir o papel de Blade na série, e a escolha de seu substituto seria bastante controversa: o rapper Sticky Fingaz, creditado na abertura como Kirk "Sticky" Jones. O rapper declararia que sua intenção não era substituir Snipes nem fazer as pessoas se esquecerem dos filmes, mas ainda assim criar um Blade totalmente original, que se destacasse por si só. O elenco de coadjuvantes da série, tanto humanos quanto vampiros, seria completamente novo e sem ligação com os filmes, com o maior destaque sendo Shen (Nelson Lee), que fabrica as armas e equipamentos de Blade, atua como hacker para invadir computadores de vampiros, mistura um soro que mantém os instintos vampirescos de Blade sob controle, e consegue ler e falar o idioma dos vampiros - e que decide ajudar Blade porque sua irmã foi morta por vampiros.

A série começa quando a soldado Krista Starr (Jill Wagner) retorna do Iraque e descobre que seu irmão foi morto. Investigando, ela descobre que o assassino foi um poderoso vampiro, Marcus Van Sciver (Neil Jackson), o principal antagonista da série, que a transforma também em vampira. Ela então é encontrada por Blade, que compartilha seu soro com ela em busca de ajuda para destruir Marcus; seu plano é que Krista se infiltre na organização da qual o vampiro faz parte, a Casa de Chthon, e atue como agente dupla, passando a ele as informações necessárias para derrotá-los. Além de Blade, Shen, Krista e Marcus, o elenco principal conta com Chase (Jessica Gower), vampira braço-direito do vilão.

A série seria produzida pela New Line Television, subsidiária do estúdio de cinema que produziu os filmes, e teria um piloto de duas horas de duração (lançado em DVD com o nome de Blade: House of Chthon) exibido em 28 de junho de 2006, mais tarde dividido em dois episódios para as reprises. A Spike TV encomendaria mais 11 episódios, exibidos entre 5 de julho e 13 de setembro, para uma temporada com um total de 13. Oficialmente, a série é uma continuação dos filmes, sendo ambientada um espaço de tempo não especificado após Blade Trinity, mas, apesar de o piloto fazer algumas referências ao eventos dos três filmes, os demais episódios os ignoram, praticamente ocorrendo em uma realidade paralela.

O piloto seria o programa mais assistido da história da Spike TV, alcançando um pico de 2,5 milhões de espectadores, e a série seria o programa mais assistido da TV a cabo norte-americana enquanto estava no ar. A crítica ficaria dividida, achando que os episódios tinham muita ação e pouca história, com o enredo sendo irrelevante diante da missão de Blade de matar tantos vampiros quanto possível. Apesar do sucesso de público, a série seria cancelada enquanto ainda estava no ar, com o anúncio oficial sendo feito em 28 de setembro; segundo Johns, a Spike TV não queria cancelá-la, mas não tinha orçamento suficiente para bancar uma segunda temporada. O último episódio possui uma espécie de final, mas deixa pontas soltas suficientes para que uma segunda temporada fosse feita caso a série fosse renovada.

Vale dizer também que Blade: The Series estaria disponível para download pago no iTunes antes mesmo de sua estreia na Spike TV, sendo a segunda série da história a ser disponibilizada online antes da estreia - a primeira tendo sido Conviction, um spin-off de Lei & Ordem, que estreou em março de 2006 e também teve apenas uma temporada. A série seria lançada em DVD em 2008 pela Warner Bros, com os episódios re-editados para incluir cenas consideradas "inapropriadas para a TV", a maioria por motivos de violência. Como o personagem é da Marvel, pode ser que um dia ela apareça no Disney+, mas, por enquanto, provavelmente por razões contratuais, ainda não está disponível.
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sábado, 21 de dezembro de 2024

Escrito por em 21.12.24 com 0 comentários

The Wire

Antes que o ano acabe, eu vou falar sobre uma das melhores séries da história da TV. Hoje é dia de The Wire no átomo!


The Wire, que até tem um título em português que ninguém usa, A Escuta, foi uma criação de David Simon, originalmente um jornalista que trabalhou para o jornal The Baltimore Sun entre 1982 e 1995. Durante esse tempo, ele escreveria dois livros; o primeiro, Homicide: A Year on the Killing Streets (algo como "homicídio: um ano nas ruas assassinas"), lançado em 1991, para o qual acompanhou durante um ano os detetives da divisão de homicídios da polícia de Baltimore. O livro seria um grande sucesso, e Simon tentaria convencer o produtor Barry Levinson, nascido e criado em Baltimore, a adaptar o filme para o cinema. Levinson leria o livro e acharia que seria melhor adaptar para uma série, pela maior possibilidade de contar histórias, e apresentaria essa ideia ao roteirista Paul Attanasio, que compraria os direitos sobre o livro e criaria uma série, chamada Homicide: Life on the Street (simplesmente Homicídio aqui no Brasil), que seria exibida pela NBC durante 7 temporadas, entre 1993 e 1999, com um total de 122 episódios, mais um filme para a TV (Homicide: The Movie) que estrearia em 2000 e seria o encerramento da série. Simon atuaria apenas como consultor, com Attanasio sendo creditado como o criador da série.

Durante o tempo em que passou com a polícia para escrever Homicide, Simon conheceria o detetive Ed Burns, e os dois escreveriam juntos The Corner: A Year in the Life of an Inner-City Neighborhood (algo como "a esquina: um ano na vida de uma vizinhança da parte pobre da cidade"), lançado em 1997. O livro acompanhava a vida de dois viciados em drogas que moravam num bairro próximo ao centro de Baltimore, onde ficam as comunidades mais pobres, e sua relação com os traficantes e a polícia, e seria adaptado para uma minissérie em seis episódios, também chamada The Corner, exibida pela HBO em 2000, que ganharia três Emmys, de Melhor Minissérie, Melhor Direção para uma Minissérie, Filme para a TV ou Especial, e Melhor Roteiro para uma Minissérie ou Filme para a TV.

Após a estreia da minissérie, Simon pensaria em escrever uma série policial baseada nas experiências que viveu ao lado de Burns nesses anos que levaram ao lançamento de seus dois livros. Burns trabalhava investigando traficantes de drogas que se envolviam em violentas guerras de gangues, e planejava usar modernos equipamentos de vigilância eletrônica em suas investigações, sempre sendo prejudicado pela burocracia da polícia; Simon pensaria que esse poderia ser o ponto de partida perfeito, mostrando em sua série que o combate ao crime na cidade era prejudicado pela burocracia e pela incompetência das pessoas nas posições de comando. No início dos anos 2000, as escutas telefônicas autorizadas pela justiça também começavam a se popularizar, e ele pensaria em fazer com que esse fosse o objeto central da história, que, então, chamaria de The Wire.

Enquanto Homicídio estava no ar, a NBC diversas vezes se queixaria com Simon sobre o "tom pessimista" da série, e ele sempre respondia que não podia fazer nada, primeiro porque o tom do livro era pessimista mesmo, segundo porque ele era apenas um consultor, ficando as histórias a cargo de Attanasio e sua equipe. Após criar sua nova série, portanto, Simon decidiria oferecê-la à HBO, com quem teve uma experiência mais agradável durante a produção de The Corner, da qual foi roteirista, junto com David Mills. A HBO a princípio não gostaria da ideia de exibir uma série policial, algo que já existia aos montes na TV aberta, mas seria convencida após Simon conseguir autorização do Prefeito de Baltimore para retratar a cidade e suas instituições da forma como quisesse, mesmo que ela fosse pessimista e desagradável - na opinião do prefeito, isso não mudaria a opinião dos moradores da cidade sobre ela, nem teria impacto sobre a forma como a polícia faz seu trabalho. Além de criador da série e um de seus roteiristas, Simon seria um dos produtores da série, ao lado de Robert F. Colesberry e Nina Kostroff Noble, também co-produtores de The Corner.

Simon apostaria no realismo para o sucesso da série; embora todos os personagens principais fossem fictícios, assim como as situações enfrentadas por eles, alguns dos personagens secundários eram inspirados em moradores reais de Baltimore, e vários atores amadores seriam escalados para pequenos papéis, com Simon dizendo que isso "contribuía para a sensação de pertencimento". Os procedimentos da polícia eram mostrados de forma tão realista que criminosos presos na Baltimore real confessaram assistir à série para aprender como enganar a polícia; da mesma forma, moradores das comunidades pobres declarariam reconhecer várias das situações enfrentadas pelos personagens, de uma forma que jamais havia sido mostrada na TV. O jornal The Baltimore Sun, no qual Simon trabalhou, também é mostrado na série, e jornalistas diriam ter visto a representação mais realística de uma redação de jornal em toda a história da televisão norte-americana.

Cada episódio seguia uma estrutura própria, que começava com uma cena muitas vezes de pouca importância para o episódio em questão, mas que fazia andar a história como um todo. Em seguida vinha a abertura, composta por várias cenas de episódios daquela temporada ou das anteriores, com cada temporada contando com cenas diferentes, enquanto os nomes do elenco e da equipe apareciam escritos. Após a abertura, vinha uma tela preta com uma frase falada por algum personagem ao longo daquele episódio, e que tinha a ver com a história central daquele episódio. Apesar de todos os episódios fazerem parte de um mesmo arco de história - com cada temporada tendo seu próprio arco, mas existindo um arco maior que permeia toda a série - cada episódio tinha também uma história central própria, e, por isso, raramente os episódios acabavam em cliffhangers, com cada um tendo uma espécie de final próprio, terminando com a tela escurecendo e os créditos sendo mostrados ao som da música-tema da série.

The Wire seria descrita por muitos críticos como um "romance visual", no sentido de que, assim como em um livro, muitas histórias paralelas acontecem ao mesmo tempo, e é preciso que o espectador preste atenção em todos os diálogos para compreender a história central. Eventos que ocorrem "fora de tela" são subentendidos pelos diálogos dos personagens, sem uso de narração ou de flashbacks, com a única exceção sendo um flashback no piloto. A série chamaria atenção por ser muito mais densa e cheia de detalhes do que outras séries policiais da época, e os temas abordados também seriam mais profundos e de maior relevância social até mesmo em relação ao que os espectadores da HBO estavam acostumados. Subvertendo os clichês dos seriados dessa temática, muitos dos policiais eram movidos não pelo "desejo de proteger e servir", mas porque queriam provar ser mais espertos que os criminosos, ou porque precisavam de dinheiro; da mesma forma, nem todos os criminosos tinham como objetivo ganhar dinheiro ou causar o mal a outras pessoas, com alguns estando presos à vida de crimes sem conseguir uma saída, às vezes até tentando conseguir um emprego honesto, mas mantendo a vida de crimes ao seu alcance como Plano B. Também chama atenção a forma como os problemas da cidade são mostrados como sendo interligados e sem fácil solução - apesar de haver a gratificação tradicional dos seriados policiais, como a prisão ou morte dos bandidos, fica sempre no ar a impressão de que os problemas enfrentados pelos policiais jamais serão solucionados.

A trilha sonora da série também chamaria atenção por ser no estilo diegético - exceto em montagens, como as que ocorriam nos últimos episódios de cada temporada, todas as músicas que tocavam nos episódios eram escutadas também pelos personagens, através de um rádio do carro, rádio portátil ou jukebox, por exemplo, nunca sendo músicas inseridas apenas para que a audiência ouvisse. A música da abertura seria Way Down in the Hole, gravada por Tom Waits em 1987; cada temporada, além de imagens diferentes na abertura, teria uma versão diferente da música, com um arranjo diferente e interpretada por um artista diferente - The Blind Boys of Alabama, Waits, The Neville Brothers, DoMaJe e Steve Earle, respectivamente. A música tocada nos créditos, considerada a música-tema da série, se chama The Fall, é instrumental, e foi composta por Blake Leyh, o diretor musical da série. Dois álbuns de trilha sonora da série seriam lançados em 2008, The Wire: And All the Pieces Matter - Five Years of Music from The Wire, somente com canções que tocaram durante os episódios, e Beyond Hamsterdam, somente com canções de artistas e bandas iniciantes, todos originários da Grande Baltimore - a primeira música desse álbum seria a versão de Way Down in the Hole de DoMaJe, um coral de cinco adolescentes de 15 anos estudantes de escolas públicas de Baltimore, criado especificamente para gravar a abertura da quarta temporada.

A série possui seis instituições principais: o departamento de polícia, a prefeitura, o sistema escolar público, o sindicato dos estivadores, o jornal The Baltimore Sun e a operação de tráfico de drogas comandada pelos criminosos. Simon diria que essas instituições eram comparáveis umas às outras, no sentido de que todas eram disfuncionais e tinham problemas com os quais seus integrantes tinham de se acostumar para conseguir realizar seu trabalho - muitos deles sendo traídos por elas quando estavam prestes a alcançar algum resultado de importância. Também segundo Simon, uma das principais mensagens da série era a de que nem sempre o trabalho duro é recompensado. O conflito entre os objetivos individuais dos personagens e os objetivos gerais das instituições às quais eles serviam também estava sempre presente.

Simon seria o principal roteirista da série, co-escrevendo a maioria dos roteiros com Burns, que também seria produtor nas duas últimas temporadas. Três aclamados escritores de roteiros policiais de fora de Baltimore também fariam parte da equipe: Richard Price, de Nova Iorque, Dennis Lehane, de Boston, e George Pelecanos, de Washington, que também seria um dos produtores da terceira temporada. Colesberry não seria roteirista, mas, segundo a equipe, contribuiria de forma inestimável com as histórias das duas primeiras temporadas; ele também interpretaria o policial Ray Cole e seria o diretor do último episódio da segunda temporada, mas infelizmente faleceria de complicações após uma cirurgia cardíaca antes de começarem as gravações da terceira. Um jornalista colega de Simon no Baltimore Sun, Rafael Alvarez, também contribuiria com roteiros, além de escrever um livro sobre a série, The Wire: Truth Be Told (algo como "que a verdade seja contada"); outro jornalista, William F. Zorzi, especialista em política, se uniria à equipe de roteiristas na terceira temporada. Mills, co-roteista de The Corner, se uniria à equipe na quarta temporada.

Ao escolher o elenco, Simon rejeitaria nomes famosos, preferindo escolher atores que achava que combinavam com os personagens; Baltimore é uma das cidades dos Estados Unidos de maior população negra, então ele também fez questão de que isso se refletisse na série, com a maior parte do elenco sendo de atores negros. A maioria dos atores viria da série Oz, também da HBO, ou de The Corner, através da qual Simon conheceria seus trabalhos. Dentre os atores amadores, podem ser citados o policial Ed Norris, que interpretou uma versão ficcional de si mesmo; Little Melvin Williams, ex-traficante que foi preso por Burns na década de 1980, que interpreta um diácono; e o ex-delegado de polícia Gary D'Addario, que serviu como consultor nas duas primeiras temporadas, e interpretava o escrivão Gary DiPasquale. Pela própria natureza da série, o elenco mudaria bastante de uma temporada para a outra, mantendo um punhado de personagens principais mas removendo os que não teriam destaque na nova história e adicionando outros que poderiam seguir ou não.

A primeira temporada teria 13 episódios, exibidos entre 2 de junho e 8 de setembro de 2002. As duas principais instituições retratadas são o departamento de polícia de Baltimore e a Família Barksdale, responsável pelo controle do tráfico de drogas na zona oeste da cidade. O protagonista é o detetive Jimmy McNulty (Dominic West), conhecido por ser insubordinado, levemente alcoólatra e um tanto irresponsável, que está cansado de prender traficantes ligados a Barksdale e eles serem soltos durante o julgamento por falta de provas. Um dia, conversando casualmente com o Juiz Daniel Phelan (Peter Gerety), ele dá a entender que ninguém está investigando Avon Barksdale (Wood Harris), o cabeça da organização, e que ninguém na polícia nem sabe qual é a aparência dele. Revoltado, o juiz ordena que a polícia crie uma equipe especial voltada apenas para investigar Barksdale, o que irrita o vice-comissário de polícia, Ervin Burrell (Frankie Faison), mais preocupado com a imagem da polícia junto à população do que em efetivamente resolver crimes. Burrell passa a tarefa ao chefe de McNulty, o major William Rawls (John Doman), que decide montar uma unidade só pra mostrar serviço, com uma equipe formada em sua maioria por policiais incompetentes ou que caíram em desgraça junto aos chefes, apenas para prestar satisfação ao juiz, sem nenhuma intenção real de investigar ou prender Barksdale.

McNulty, porém, é ardiloso, e decide usar até mesmo métodos pouco convencionais, como passar por cima da hierarquia ou fingir não estar interessado em um determinado policial apenas para que Rawls o coloque na equipe, para não somente montar a melhor equipe possível como também fechar o cerco em volta de Barksdale sem que seus superiores sequer percebam que ele está fazendo isso. Através da procuradora Ronnie Perlman (Deirdre Lovejoy), com quem teve um caso no passado, ele também consegue convencer o juiz a autorizar vigilância eletrônica, incluindo escutas nos telefones públicos usados pelos traficantes dos Barksdale, o que dá nome à série e acaba por fim levando à prisão do criminoso.

A equipe montada pela polícia, da qual McNulty também faz parte, é comandada pelo Tenente Cedric Daniels (Lance Reddick), policial honesto que está pensando em pedir demissão por nunca conseguir fazer as coisas do jeito correto, de quem Burrell não vai com a cara, e dá a ele o comando da unidade como uma espécie de castigo. Originalmente, Daniels era da delegacia de narcóticos, e, de lá, traz com ele três outros policiais: a tenente Shakima Greggs, apelido Kima (Sonja Sohn), que, assim como McNulty, tem problemas com álcool e infidelidade, mas é uma espécie de contraponto a ele, sendo extremamente focada, determinada, e sempre querendo fazer as coisas conforme o regulamento; Ellis Carver (Seth Gilliam), que é honesto e competente, mas se ressente de nunca conseguir um caso que valha a pena, passando seus dias prendendo menores de idade que trabalham para o tráfico; e Thomas Hauk, apelido Herc (Domenick Lombardozzi), que se diverte sendo policial, intimidando os bandidos, e nem sempre está exatamente dentro da lei.

Outra figura-chave da unidade é Lester Freamon (Clarke Peters), detetive extremamente inteligente, metódico e paciente, que tem como hobby criar móveis para casinhas de bonecas, mas estava subaproveitado na unidade de penhores por ter irritado um superior. O único policial que o comando considera competente e vai parar na unidade é Leander Sydnor (Corey Parker Robinson), que McNulty consegue cobrando um favor; do integrante restante da unidade, Roland Pryzbylewski, apelido Prez (Jim True-Frost), já não se pode dizer o mesmo, já que ele não leva o menor jeito para policial, só está empregado por ser genro de um major, e a unidade pareceu ser o lugar perfeito para ele não atrapalhar ninguém. Completam o "time dos mocinhos" o melhor amigo de McNulty e detetive de homicídios, o bonachão Bunk Moreland (Wendell Pierce), que, apesar de estar sempre fazendo piada, leva seu trabalho muito a sério, e não quer nem saber de ser arrastado para uma unidade montada só para agradar um juiz; o agente do FBI Terrance Fitzhugh, apelido Fitz (Doug Olear), amigo de longa data de McNulty, que dá a ele a ideia de usar as escutas; e Reginald Cousins, apelido Bubbles (Andre Royo), viciado em heroína que mora nas ruas e atua como informante para Greggs.

Do lado dos bandidos, Avon Barksdale é o chefe da operação, mas raramente dá as caras, tanto que a polícia realmente sequer conhece sua aparência. A face da organização é seu melhor amigo e braço-direito, Russell Bell, apelido Stringer (Idris Elba), extremamente inteligente, que faz faculdade de administração e sonha criar uma empresa de fachada para acobertar todos os crimes da organização. Também merecem destaque D'Angelo Barksdale (Lawrence Gilliard, Jr.), sobrinho de Avon, que tem bom coração e nem sempre está confortável com os atos da organização, mas que não conhece outra vida além do crime e é da opinião de que tem de fazer de tudo para proteger sua família; Roland Brice, apelido Wee-Bay (Hassan Johnson), mais confiável soldado de Avon; e os adolescentes Preston Broadus, apelido Broadie (J.D. Williams), Malik Carr, apelido Poot (Tray Chaney), e Wallace (Michael B. Jordan), que vendem drogas para Avon em um conjunto habitacional pobre. Outro bandido de grande importância para a história é Joseph Stewart, apelido Proposition Joe (Robert F. Chew), rival de Avon que controla o tráfico da zona leste, tem esse apelido (o "zé da proposta") por ter fama de apaziguador, sempre fazendo propostas para selar a paz entre rivais, e sonha liderar uma cooperativa que reuniria todos os traficantes da cidade, acabando de vez com as guerras pelas drogas.

Outros personagens de destaque que estreiam na primeira temporada são Omar Little (Michael K. Williams), bandido que ataca somente traficantes, roubando suas drogas e seu dinheiro, jamais ameaçando a população; o senador estadual Clay Davis (Isiah Whitlock, Jr.), que tem fama de corrupto e de ter ligações com o crime organizado; o advogado Maurice Levy (Michael Kostroff), que defende a família Barksdale, Proposition Joe e todos os bandidos que possam pagar, estando mais preocupado com o dinheiro do que com sua reputação ou com a segurança da cidade; Brianna Barksdale (Michael Hyatt), irmã de Avon e mãe de D'Angelo; o major Howard Colvin, apelido Bunny (Robert Wisdom), antigo comandante de McNulty, que também é revoltado por não conseguir fazer as coisas da forma como deseja, mas prefere dançar conforme a música; o major Stan Valchek (Al Brown), sogro de Prez; e o sargento Jay Landsman (Delaney Williams), a quem McNulty e Bunk são subordinados, que prefere passar seus dias lendo Playboy e comendo do que resolvendo crimes.

Landsman tem o mesmo nome, mas não é inspirado, em um policial da Baltimore real também chamado Jay Landsman, que atuou como consultor na primeira temporada, e também é ator amador, tendo interpretado o tenente Dennis Mello, segundo em comando de Bunny Colvin. Outros personagens de menor destaque incluem os policiais Michael Santangelo, apelido Sanny (Michael Salconi), Vernon Holley (Brian Anthony Wilson), Augustus Polk (Nat Benchley), Patrick Mahon (Tom Quinn), Frank Barlow (Michael Stone Forrest) e Bobby Reed (Tony D. Head); o coronel Raymond Forester (Richard DeAngelis), que está prestes a se aposentar, com sua vaga sendo cobiçada por Rawls; a promotora Ilene Nathan (Susan Rome); a esposa de Daniels, Marla (Maria Broom); a esposa de Kima, Cheryl (Melanie Nicholls-King); o melhor amigo de Bubbles, Johnny Weeks (Leo Fitzpatrick); o padrinho de Bubbles nos Narcóticos Anônimos, Walon (Steve Earle); a esposa de D'Angelo, Donette (Shamyl Brown); Shardene Innes (Wendy Grantham), dançarina que trabalha na Orlando's, uma boate que é fachada para os negócios de Avon, e que se apaixona por Lester; Wendell Blocker (Clayton LeBouef), para todos os efeitos o dono da Orlando's; o Dr. Randall Frazier (Erik Dellums), médico-legista da polícia; a supervisora do FBI Amanda Reese (Benay Berger); e a ex-esposa de McNulty, Elena (Callie Thorne), que se separou dele por causa do álcool e dos casos extraconjugais, conseguindo a guarda de seus dois filhos, Michael (Antonio Cordova) e Sean (Eric G. Ryan).

Por causa dos números da audiência, Simon imaginou que The Wire não seria renovada para uma segunda temporada, e fez um episódio final para a primeira, que, apesar de deixar uma pequena margem para novas histórias, fechava todas as pontas da apresentada até então. Quando a HBO anunciou sua intenção de renovar a série, portanto, ele precisava de uma nova história, e decidiu abordar um problema conhecido dos moradores de Baltimore, mas sem relação com o tráfico de drogas: a decadência da região portuária e a dificuldade de alguns trabalhadores em continuar empregados na transição da sociedade industrial para a pós-industrial, na qual tudo é informatizado.

Assim, na segunda temporada, que teve 12 episódios, exibidos entre 1 de junho e 24 de agosto de 2003, entra em cena o sindicato dos estivadores, cujo presidente é Frank Sobotka (Chris Bauer). Como o trabalho de estivador já não é tão lucrativo como costumava ser, Sobotka decide fazer negócios com um homem conhecido como Vondas (Paul Ben-Victor), que traz contrabando da Europa: Vondas informa qual contêiner trará o contrabando e, se aproveitando de uma falha no sistema, recém-informatizado, os estivadores fazem com que ele "desapareça", sendo entregue aos homens de Vondas antes que seja processado, fiscalizado e pague os impostos; em troca, Sobotka fica com parte do lucro, que repassa aos estivadores. A história da segunda temporada começa quando um desses contêineres deveria trazer mulheres da Europa Oriental para se prostituírem nos Estados Unidos, mas algo dá errado, todas chegam mortas, e Vondas decide abandonar o contêiner no porto ao invés de retirá-lo.

Quem descobre as moças mortas é a policial Beatrice Russell, apelido Beadie (Amy Ryan), que faz parte da autoridade portuária. McNulty, que mais para o final da temporada vai formar com ela um casal, esbarra sem querer no caso, e vê a oportunidade perfeita para que a unidade especial da polícia seja reativada - e, por consequência, ele volte a investigar crimes importantes, ao invés de ficar só fingindo que trabalha o dia inteiro, o que Rawls, promovido a coronel, lhe determinou como punição após suas estripulias da primeira temporada. Paralelamente à história dos estivadores, a história da família Barksdale avança mais um pouco, com Avon comandando os negócios de dentro da prisão, e Stringer, sem seu conhecimento, fazendo uma aliança com Proposition Joe - que também recebe suas drogas através do contrabando de Vondas - para garantir que o mercado se mantenha aquecido.

Novos personagens da segunda temporada incluem o filho de Sobotka, Ziggy (James Ransone), que é incompetente, mulherengo, só pensa em dinheiro e mais atrapalha do que ajuda o pai; o sobrinho de Sobotka e primo de Ziggy, Nick (Pablo Schreiber), que teve um filho com a namorada, Aimee (Kristin Proctor), mora com ela e os pais, Joan (Elizabeth Noone) e Louis (Robert Hogan), e quer de qualquer jeito uma participação maior no esquema criminoso, para ganhar mais dinheiro; Sergei Malatov (Chris Ashworth), que todo mundo insiste em chamar de Boris, algo que o irrita, ucraniano que faz parte da organização criminosa de Vondas, de vez em quando atuando como o motorista que tira do porto os contêineres com contrabando; Eton Ben-Eleazer (Lev Gorn), israelense que faz parte da organização de Vondas; George Glekas (Teddy Cañez), dono de uma loja que vende material contrabandeado pela organização de Vondas; o policial veterano amigo de McNulty Claude Diggins (Jeffrey Fugitt); Andy Krawczyk (Michael Wills), um empreendedor imobiliário picareta que se aproveita do fato de que Stringer Bell quer se tornar empresário para tirar dinheiro dele; Sean McGinty, apelido Shamrock (Richard Burton), braço-direito de Stringer; o traficante Melvin Wagstaff, apelido Cheese (o rapper Method Man), sobrinho de Proposition Joe, que não é muito inteligente mas é muito ambicioso, uma combinação perigosa no mundo do crime; Kimmy (Kelli R. Brown) e Tosha (Edwina Findley), duas mulheres que ajudam Omar em seus crimes; Butchie (S. Robert Morgan), cego dono de um bar que tem um passado criminoso em comum com Omar e o ajuda sempre que preciso; o Irmão Mouzone (Michael Potts), assassino de aluguel que Avon contrata para expulsar os homens de Proposition Joe de seu território, e seu assistente meio incompetente, Lamar (DeAndre McCullough); e os estivadores Johnny Fifty (Jeffrey Pat Gordon), Vernon Motley, apelido Ott (Bus Howard), Nat Coxson (Luray Cooper), rival político de Sobotka, e Thomas Pakusa, apelido Cara de Cavalo (Charley Scalles), braço-direito de Sobotka. Também vale citar um homem conhecido apenas como "O Grego" (Bill Raymond), o verdadeiro chefe da organização criminosa de Vondas.

Na terceira temporada, Simon decidiria retomar com força total a história da primeira, com Avon recebendo liberdade condicional e declarando guerra não somente a Proposition Joe, mas também ao novato Marlo Stanfield (Jamie Hector), que, com a ajuda de seus tenentes, Chris Partlow (Gbenga Akinnagbe) e Snoop (Felicia Pearson), decide impor um novo reinado de terror à cidade, se considerando o sangue novo que vai tomar o poder de todos os criminosos antigos já estabelecidos. A instituição que recebe os holofotes é a da prefeitura, com quatro novos personagens de peso: o prefeito, Clarence Royce (Glynn Turman); os vereadores Tommy Carcetti (Aidan Gillen) e Tony Gray (Christopher Mann), que pretendem se lançar candidatos a prefeito; e o deputado Odell Watkins (Frederick Strother), um dos mais influentes nas comunidades negras da cidade, com quem conseguir seu apoio tendo a vitória quase certa na eleição. Uma história paralela de destaque é a de Dennis Wise, apelido Cutty (Chad L. Coleman), ex-presidiário que tem dificuldades para voltar ao mercado de trabalho. Mas a história principal da terceira temporada envolve Bunny Colvin cansando de tomar atitudes inúteis para diminuir a venda de drogas e decidindo tomar uma medida drástica: inventar a Cracolândia - ele dá ordem para que os policiais não incomodem os traficantes e usuários que concordarem em ficar em apenas uma determinada parte da cidade, apelidada pelos bandidos de Hamsterdam, conseguindo reduzir a zero o tráfico e a violência nas demais, evidentemente sem que Burrell ou Royce possam ficar sabendo disso.

A terceira temporada teria mais 12 episódios, exibidos entre 19 de setembro e 19 de dezembro de 2004. Novos personagens incluem Theresa D'Agostino (Brandy Burre), coordenadora da campanha de Carcetti; Coleman Parker (Cleo Reginald Pizna), chefe de gabinete do prefeito Royce; a esposa de Carcetti, Jen (Megan Anderson); os policiais Kenneth Dozerman, apelido Doze (Rick Otto), Caroline Massey (Joilet Harris), Michael Crutchfield (Gregory L. Williams), Anthony Colicchio (Benjamin Busch) e Lloyd Garrick, apelido Truck (Ryan Sands); Grace Sampson (Dravon James), ex-namorada de Cutty que agora é professora; Slim Charles (Anwan Glover), tenente de Avon que depois passa a ocupar a mesma posição para Proposition Joe; Bernard (Melvin Jackson Jr.) e sua namorada, Squeak (Mia Arnice Chambers), que têm a missão de comprar celulares pré-pagos para os Barksdale; o traficante Fruit (Brandon Fobbs), da equipe de Marlo; Jamal (Melvin T. Russell), adolescente que vende drogas para os Barksdale; Kenard (Thuniso Dingwall), menininho que ainda não tem nem dez anos e já está envolvido com o mundo do crime; Sherrod (Rashad Orange), adolescente que mora nas ruas e é meio que adotado por Bubbles; e Spider (Edward Bernard Green, Jr.) e Justin (Justin Burley), adolescentes que Cutty convence a largar o crime para praticar boxe.

Com a morte de Colesberry, as negociações com a HBO para que The Wire fosse renovada para uma quarta temporada se tornariam extremamente difíceis; para piorar as coisas, West pediria por um aumento salarial absurdo e seria cortado do elenco. A série quase seria cancelada, e Simon só conseguiria convencer os executivos do canal a renová-la depois que a terceira temporada já havia ido ao ar. Por causa disso, não haveria temporada nova em 2005, e a quarta temporada, que teria mais 13 episódios, seria exibida entre 10 de setembro e 10 de dezembro de 2006. Quando as gravações começaram, West mudou de ideia e perguntou se poderia estar na série, mesmo que em um papel reduzido, para que os roteiros não tivessem de ser reescritos; por essa razão, McNulty quase não apareceria na quarta temporada, com o maior protagonismo ficando com Prez.

A instituição em foco na quarta temporada é o sistema escolar público da cidade, com Prez decidindo deixar a polícia e se tornar professor de matemática, e enfrentando desafios com as crianças maiores dos que tinha com os criminosos. Paralelamente a isso, ocorre a campanha para prefeito, com Carcetti e Royce disputando os eleitores voto a voto e seus aliados políticos promessa a promessa, e Gray correndo por fora. Bubbles decide abandonar o vício, e, junto com Sherrod, monta um negócio de vendas ambulante, com produtos de procedência duvidosa em um carrinho de supermercado, mas abandonar as drogas e a antiga vida se mostrará mais difícil do que ele imaginava. E Marlo trabalha para consolidar sua posição como maior traficante da cidade, superando Barksdale e chegando a ameaçar Proposition Joe; apesar do reinado de terror que impõe, ele consegue criar com Chris e Snoop um método através do qual a polícia não consegue ter provas de que ele está atacando e assassinando seus rivais, o que faz com que ele fique quase intocável - e com que a equipe especial da polícia, que não consegue chegar a nenhum resultado em relação a ele, seja redirecionada para crimes sem importância, o que causa revolta em Lester e Kima.

A quarta temporada tem muitos personagens novos, a começar pelos alunos da escola onde Prez vai trabalhar: o filho de Wee-Bay, Namond Brice (Julito McCullum), extremamente inteligente, que não quer seguir a vida de crimes do pai, apesar da insistência da mãe, De'Londa (Sandi McCree), mas também não vê outra alternativa para progredir; Michael Lee (Tristan Mack Wilds), que mora com uma mãe drogada (Shamika Cotton) e um irmão mais novo, Bug (Keenon Brice), é revoltado com a vida e quer ascender financeiramente a qualquer custo; Duquan Weems, apelido Dukie (Jermaine Crawford), que vem de uma família miserável e sofre bullying por estar sempre com as roupas sujas; Randy Wagstaff (Maestro Harrell), que mora com Anna (Denise Hart), uma mãe adotiva (no esquema que nos Estados Unidos é conhecido como foster parenting), e ganha dinheiro vendendo biscoitos e chocolates para os outros alunos; e Donut (Nathan Corbett), que rouba carros quando não está na escola.

Um personagem novo de extrema importância é Norman Wilson (Reg E. Cathey), conselheiro político de Carcetti. Outros personagens novos incluem Michael Steintorf (Neal Huff), chefe de gabinete de Carcetti; a vereadora Nerese Campbell (Marlyne Barrett), que se via como sucessora natural de Royce, e, portanto, passa a ser adversária política de Carcetti, mesmo sem estar concorrendo; o procurador do estado, Rupert Bond (Dion Graham); o Dr. David Parenti (Dan de Luca), que tenta implementar na escola uma classe especial somente com alunos problemáticos; o Tenente linha-dura Charles Marimow (Boris McGiver); o policial corrupto Eddie Walker (Jonnie Brown); o namorado de Omar, Renaldo (Ramón Rodríguez); Monk Metcalf (Kwame Patterson), traficante ligado a Marlo; o traficante Little Kelvin (Tyrell Baker), amigo de Bodie; e a vice-diretora da escola, Marcia Donnelly (Susan Duvall).

Mais uma vez, a HBO quis cancelar a série após a quarta temporada, e somente depois que todos os episódios haviam ido ao ar Simon conseguiu convencer os executivos a fazer uma última, apenas para fechar as pontas que ainda estavam soltas na história. Isso levaria mais uma vez a um ano sabático, e com que a quinta temporada, que teria apenas 10 episódios, fosse exibida entre 6 de janeiro e 9 de março de 2008. Enquanto a temporada estava no ar, Simon ainda tentaria convencer a HBO a renovar a série para uma sexta, mas, sem sucesso, escreveria um episódio final, de uma hora e meia, que encerraria The Wire definitivamente.

McNulty voltaria ao protagonismo na quinta temporada, determinado a não medir esforços para fazer com que os muitos cortes feitos pela prefeitura no orçamento da polícia impeçam que Marlo seja preso. A nova instituição retratada é uma versão ficcional da redação do jornal The Baltimore Sun, com novos personagens incluindo o editor Augustus Haynes, apelido Gus (Clark Johnson, que foi diretor de alguns episódios da série, incluindo o piloto e o final); o repórter Scott Templeton (Tom McCarthy), que tem o hábito de florear suas histórias; a repórter novata Alma Gutierrez (Michelle Paress); o editor-chefe, Thomas Klebanow (David Costabile); o editor executivo, James C. Whiting III (Sam Freed); e os jornalistas Mike Fletcher (Brandon Young), Roger Twigg (Bruce Kirkpatrick), Tim Phelps (Thomas J. McCarthty), Steve Luxenberg (Robert Poletick), Rebecca Corbett (Kara Lee Duncan) e Jay Spry (Donald Neal).

Enquanto estava no ar, The Wire teve audiência nunca melhor que mediana, e jamais ganhou nenhum prêmio de importância, tendo sido indicada ao Emmy apenas duas vezes, ambas por Melhor Roteiro em Uma Série de Drama, uma na terceira temporada, outra pelo episódio final. A crítica, por outro lado, sempre a definiu como uma das melhores séries da história da televisão norte-americana, com as temporadas a partir da segunda sendo especialmente aclamadas. Nos anos seguintes ao seu término, várias universidades dos Estados Unidos, como Johns Hopkins, Brown e Harvard, passaram a usar seus episódios em aulas de seus cursos de sociologia, serviço social e direito, com um dos motivos sendo que, ao contrário dos livros, que abordam um assunto de cada vez, a série conseguia unir, por exemplo, desemprego, educação pública e sistema carcerário em um único episódio, mostrando que tudo estava interligado e seria difícil solucionar um problema sem apresentar soluções para os demais. Atualmente, vários estudos científicos no mundo inteiro são escritos e publicados partindo de premissas estabelecidas pelos episódios da série, com alguns sendo considerados mais efetivos do que estudos caros conduzidos com moradores de cidades com altos índices de criminalidade.
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sábado, 19 de outubro de 2024

Escrito por em 19.10.24 com 0 comentários

Família Dinossauros

Essa semana eu estava conversando com alguns amigos que praticamente todo filme ou série hoje tem algum personagem feito por computação gráfica, mas, quando eu era criança, as produtoras tinham de ser mais criativas, usando bonecos, fantoches e animatronics. Durante essa conversa, nos lembramos dos primeiros filmes das Tartarugas Ninja e de Família Dinossauros. E aí, evidentemente, me deu vontade de escrever um post, razão pela qual hoje é dia de Família Dinossauros no átomo!

Família Dinossauros (que, no original, se chama simplesmente Dinosaurs) é uma sitcom, com episódios de meia hora, que acompanha o dia a dia de uma típica família norte-americana, composta pelo pai, pela mãe, por um filho adolescente, uma filha pré-adolescente e um bebê, com ocasionais visitas da sogra e algumas cenas no ambiente de trabalho do pai, onde ele convive com seu melhor amigo, seus colegas de trabalho e seu chefe. Até aí tudo bem. O diferencial, como o próprio nome da série indica, é que ela não é ambientada na época atual, e sim na pré-história - mais precisamente, no ano 60 milhões e 1 antes de Cristo - e todos os principais personagens da série são dinossauros - que, ainda assim, vestem roupas, moram em casas, usam eletrodomésticos e convivem como se fossem pessoas.

O chefe da família é Dino da Silva Sauro (Earl Sneed Sinclair no original; o sobrenome Sinclair seria escolhido para a família por ser o nome de uma empresa exploradora de petróleo dos Estados Unidos cujo símbolo é um dinossauro), um megalossauro gorducho na casa dos 40 anos, que teve pouca educação formal e trabalha como empurrador de árvores para a empresa Isso é Assim (no original, Wesayso, algo mais próximo de "nós mandamos"), que limpa terrenos para construção de empreendimentos variados. Dino é casado com Fran, uma dona de casa totalmente devotada à família, que não trabalha fora e passa seus dias cozinhando, limpando a casa, lavando roupas e vendo TV, somente saindo de casa para alguma coisa relacionada a trabalhos domésticos, como ir ao mercado - ou seja, um típico casal aos moldes das sitcoms da Era de Ouro da televisão norte-americana. Fran é mais madura, centrada e esperta que Dino, e responsável por ser a voz da razão do casal, já que ele frequentemente se mostra teimoso e sugestionável.

O filho mais velho de Dino e Fran é Bobby (Robert Mark Sinclair, apelido Robbie, no original), que tem por volta de 15 anos e é o típico adolescente contestador, frequentemente entrando em conflito de gerações com o pai e questionando todas as tradições e costumes da sociedade dinossáurica. A segunda filha do casal se chama Charlene, tem por volta de 13 anos e também é a típica adolescente da TV norte-americana, mais preocupada com moda, fofocas e com ser popular do que com seu desempenho acadêmico ou sua vida familiar. No primeiro episódio da série, Fran coloca mais um ovo, do qual sai Baby, o personagem mais popular e mais odiado da série - apesar de ser um bebê, ele é extremamente inteligente, sarcástico, implicante, egoísta e está sempre arrumando confusão. Baby tem vários bordões famosos, como "precisa me amar" e "de novo", que usa toda vez que acontece com ele alguma coisa que deveria ser desagradável mas da qual ele gosta muito, e só chama Dino de "não é a mamãe" ao invés de "papai" - normalmente enquanto bate nele com uma panela.

Outros personagens de destaque são a sogra de Dino e mãe de Fran, Zilda (Ethyl Hinkleman Phillips, no original), que tem idade extremamente avançada, usa uma cadeira de rodas e visita a família ocasionalmente, mimando as crianças e destratando Dino com insultos e golpes de bengala; o melhor amigo de Dino, Roy Hess, um tiranossauro que também trabalha derrubando árvores para a Isso é Assim, que não é muito brilhante, mas tem bom coração (e chama Dino de "garotão", algo que também se tornou uma espécie de bordão da época); o chefe de Dino e Roy, B.P. Richfield, um triceratops (por alguma razão carnívoro) enorme, cruel, temperamental, invejoso e ganancioso, que está sempre buscando novas formas de ganhar dinheiro e humilhar seus empregados; a melhor amiga de Fran, Monica DeVertebrae, uma brontossauro pela qual Roy é apaixonado; a melhor amiga de Charlene, Mindy; e o melhor amigo de Bobby, o anquilossauro Carlão (Spike, em inglês), que é altamente irresponsável e vive o levando para situações de risco; além dos demais colegas de trabalho de Dino e Roy, chamados Ralph, Gus e Sid.

Mindy, Ralph, Gus e Sid faziam parte de um grupo conhecido como "os unissauros", seis bonecos que podiam ser aproveitados em vários papéis, apenas mudando suas roupas e adicionando acessórios como óculos, perucas e algumas cores diferentes em suas peles - o boneco usado para Gus, por exemplo, também foi usado para um colega de escola que fazia bullying com Bobby, um professor de uma escola de dança e um técnico que consertava geladeiras, dentre outros. Isso evidentemente foi feito para cortar custos, já que alguns dos personagens "interpretados" pelos unissauros apareceriam apenas em um único episódio, e ficaria muito caro fazer bonecos diferentes para todos eles; ainda assim, conforme a popularidade da série aumentava, alguns personagens de um episódio só ganhariam bonecos próprios, para se tornarem mais marcantes, como a família Poupon, que recebe Charlene durante um programa de intercâmbio, composta pelo pai Henri, a mãe Simone e o filho François, todos os três da raça arqueoptérix.

Finalmente, existiam alguns personagens que apareciam por pouco tempo, mas em muitos episódios, e também tinham bonecos próprios, sendo o mais famoso o Sr. Lagarto, que apresentava um programa de televisão que Dino e Baby adoravam assistir, no qual ele e seu ajudante mirim, Timmy, faziam várias experiências científicas - que invariavelmente terminavam com a morte de Timmy, que nunca era mostrada, apenas sugerida, e após a qual o Sr. Lagarto olhava para a câmera e dizia "vamos precisar de um outro Timmy". Também faziam parte desse grupo Howard Handupme, apresentador do telejornal da ABC (Antediluvian Broadcasting Company, uma brincadeira com o fato de que o canal que exibia a série nos Estados Unidos era a ABC, cuja sigla significa American Broadcasting Company); o Sr. Pullman, professor da escola de Bobby e Charlene; o Monstro do Pântano, que devora dinossauros desavisados que cruzam seu território; e Blarney, uma paródia do Dinossauro Barney, astro de um famoso programa infantil. Alguns pequenos animais, principalmente usados como comida pelos dinossauros, também tinham bonecos próprios ou reaproveitados, e alguns episódios contavam com homens e mulheres das cavernas, interpretados por atores caracterizados.

Cada dinossauro precisava de mais de um operador - basicamente, os que são antropomórficos e andam por aí, como Dino, Fran, Bobby, Charlene e os unissauros, são creditados cada um a três pessoas: uma que vestia a roupa, uma que controlava remotamente os movimentos do rosto, e uma que dublava a voz. Baby era um fantoche, com um operador com as mãos dentro, para mexer os braços, um controlador para os movimentos de cabeça e da boca, e um operador somente para os movimentos dos olhos, que eram enormes e muito expressivos. Outros bonecos tinham outros esquemas, como o Sr. Richfield, que só aparece da cintura para cima, tinha uma pessoa dentro para mover os braços e as mãos, enquanto os movimentos de cabeça e rosto eram controlados por um operador; Roy tinha uma pessoa que vestia a roupa, mas, como era um tiranossauro, contava com dois operadores, um para os movimentos do rosto, outro para os movimentos dos bracinhos; e Monica tinha um operador para os movimentos do rosto, mas precisava de quatro pessoas para segurar e mover o pescoço e a cabeça. Zilda era o boneco mais automatizado de todos, totalmente controlada por operadores, com apenas um dos braços sendo movido como se fosse um fantoche, quando havia necessidade.

O dublador de Dino era Stuart Pankin, com Bill Barretta vestindo a roupa, e Dave Goelz (nas duas primeiras temporadas) e Mark Wilson (nas duas últimas) sendo os operadores. Fran era dublada por Jessica Walter, com Mitchell Young Evans (nas duas primeiras temporadas) e Tony Sabin Prince (nas duas últimas) vestindo a roupa e Allan Trautman sendo o operador. Bobby tinha voz de Jason Willinger, com Leif Tilden vestindo a roupa, Steve Whitmire operando os movimentos do rosto e da crista, e Julianne Buescher os dos olhos. Charlene era dublada por Sally Struthers, com Michelan Sisti vestindo a roupa e Bruce Lanoli operando. Baby tinha voz de Kevin Clash, que também era o operador da cabeça e boca, com John Kennedy operando os olhos e Terri Hardin sendo responsável pelos movimentos dos braços. Zilda, nas duas primeiras temporadas, era operada por Brian Henson, com Rickey Boyd assumindo o papel nas duas últimas, e a voz sendo de Florence Stanley. Roy era dublado por Sam McMurray, com Pons Maar vestindo a roupa, Buescher controlando os braços e David Greenway operando o rosto. O Sr. Richfield era dublado por Sherman Hemsley, com Tilden controlando os braços e Whitmire operando os movimentos do rosto. E Monica tinha voz de Suzie Plakson, com Buescher operando os movimentos do rosto. Outros dubladores que trabalhariam na série seriam Christopher Meloni e Jessica Lundy; assim como os unissauros, alguns operadores, intérpretes (quem vestia a roupa) e dubladores se revezariam em vários papéis, dependendo da necessidade dos episódios.

A ideia de Família Dinossauros partiria de Jim Henson, o criador dos Muppets e da Vila Sésamo. Em 1986, ele estaria trabalhando com William Stout, um famoso ilustrador de fantasia, em um projeto de um filme sobre dinossauros que usaria animatronics; com o título provisório de The Natural History Project, o filme traria dinossauros realísticos, criados pela equipe de Henson obedecendo ao que se sabia sobre dinossauros na época, incluindo, dentre outros, um parassaurolofo idoso e rabugento que seria mentor e professor de um jovem e inconsequente coritossauro, um par de paquicefalossauros pouco inteligentes, um trio de velociraptors vilões que serviria como alívio cômico, e um tiranossauro cruel que seria o grande vilão do filme. A Warner aprovaria o roteiro, escrito pelo próprio Henson, e o filme entraria em pré-produção, mas, quando o estúdio soubesse que a Universal estava produzindo a animação Em Busca do Vale Encantado, que tinha Steven Spielberg e George Lucas como produtores, Don Bluth na direção, e também era estrelado por dinossauros, interromperia a produção, não querendo que os dois filmes concorressem diretamente. O filme de Henson acabaria cancelado, para desgosto de Stout, que diria que o roteiro era o melhor que ele já tinha visto na vida.

Henson ficaria com os dinossauros na cabeça, entretanto, e, em 1988 (o ano de lançamento de Em Busca do Vale Encantado), apresentaria à sua equipe um novo projeto: uma sitcom, produzida nos moldes tradicionais, mas voltada para o público infanto-juvenil, e na qual os personagens seriam dinossauros, que viveriam em uma "sociedade tóxica", quase um espelho distópico dos Estados Unidos no final dos anos 1980. Alex Rockwell, vice-presidente da Jim Henson Company, o convenceria de que essa era uma ideia maluca, que ninguém levaria isso a sério, e que uma série usando animatronics seria caríssima. Henson acabaria não apresentando o projeto a nenhum canal de TV, mas, segundo Rockwell, trabalharia nele até o fim de sua vida.

No final de 1989, Henson começaria a negociar a venda da Jim Henson Company, da Jim Henson's Creature Shop, que produzia os bonecos, e de todos personagens criados por ele, exceto os da Vila Sésamo, que, por contrato, pertenciam à Children's Television Workshop, para a Disney, planejando passar a usar seu tempo livre apenas para criar, sem ter de se preocupar com a parte dos negócios. Junto com os Muppets e outras criações, todos os projetos da sitcom dos dinossauros iriam para a Disney, caindo nas mãos de Michael Jacobs, que adoraria a ideia. Infelizmente, Henson faleceria de pneumonia, aos 53 anos, em maio de 1990, e jamais veria sua ideia sair do papel.

Após a morte de Henson, Jacobs começaria a trabalhar com o famoso produtor de TV Bob Young no desenvolvimento da série, que apresentaria à Disney. Entre 1988 e 1990, algo havia acontecido na televisão norte-americana que havia mudado o panorama, tornando-o favorável ao lançamento de uma sitcom estrelada por uma família de dinossauros: Os Simpsons, que estreariam na Fox em dezembro de 1989, quebrariam recordes de audiência e mostrariam que uma sitcom voltada ao público infanto-juvenil carregada de situações inverossímeis não era uma ideia tão cretina assim. Além disso, no início dos anos 1990, novas tecnologias barateariam (mas não muito) a produção de animatronics, que passariam a ser usados em maior escala até mesmo no cinema - pelo menos até serem substituídos pela computação gráfica, uns dois ou três anos depois.

Jacobs chamaria o filho de Henson, Brian, para ser co-produtor da série, e co-escreveria o piloto com Young. Esse piloto seria oferecido ao canal CBS, que aprovaria a série para estreia já em setembro de 1990; Jacobs e Young escreveriam mais um episódio, e começariam a contratar os roteiristas para a produção de uma temporada de 13 episódios. Atrasos nas gravações e mudanças na grade da CBS, entretanto, fariam com que o canal voltasse atrás e desistisse de exibir a série, com a Disney, então, negociando com a ABC, que hoje é do grupo Disney, mas na época ainda não era (tendo sido comprada apenas em 1996). No início de 1991, a ABC aceitaria comprar a série, mas tinha um problema: só poderia começar a exibi-la em setembro, mais de um ano após a gravação do piloto. Isso não agradou a Jacobs, que já estava tendo um grande prejuízo com as filmagens - já que, na prática, a série era uma produção da Michael Jacobs Productions em parceria com a Jim Henson Television, essa segunda pertencente à Disney - e queria ter logo algum retorno antes de gravar mais episódios. A ABC, então, se ofereceria para exibir cinco episódios num buraco que teria na grade de programação em abril e maio, quando as temporadas tradicionalmente já estavam acabando.

Esses cinco episódios, só cinco, seriam a primeira temporada de Família Dinossauros - e curiosamente, nem seriam os cinco primeiros produzidos, e sim o primeiro, segundo, terceiro, quinto e sexto. Exibida entre 26 de abril e 24 de maio de 1991, a primeira temporada seria um gigantesco sucesso de público e crítica, e indicada a dois Emmys, ganhando o de Melhor Direção de Arte para uma Série e concorrendo também a Melhor Edição para uma Série de Única Câmera. Isso mais do que agradaria a Jacobs, que recuperaria a maior parte do dinheiro investido, à Disney, que emplacaria mais um sucesso, e à ABC, que já tinha uma segunda temporada garantida para estrear no mesmo ano, com o público já cheio de expectativa - o que hoje costuma se chamar de hype.

A segunda temporada seria composta pelos oito episódios gravados mas ainda não exibidos da primeira, mais 16 gravados ao longo de 1991, para um total de 24, exibidos pela ABC entre 18 de setembro de 1991 e 8 de maio de 1992 - curiosamente, fora da ordem de produção, começando pelo décimo, então o décimo-primeiro, e aí o nono, o sétimo, o oitavo, só aí o quarto, e os demais mantendo essa ordem confusa e embaralhada. O décimo-terceiro episódio gravado, previsto para ser o último da primeira temporada, seria o décimo-sexto exibido na segunda temporada, vigésimo-primeiro no total, e seria um clip show, aqueles episódios compostos por cenas de vários dos episódios anteriores, ligados por cenas novas gravadas especialmente para ele, no caso, as de um paleontólogo, Sir David Tushingham, interpretado por Paxton Whitehead, tentando explicar, em tom de documentário, como era a vida dos dinossauros. A segunda temporada também teria um episódio especial em duas partes, que seria uma paródia da Guerra do Golfo, no qual dinossauros bípedes e quadrúpedes entram em guerra pelo controle de reservas de pistache, e duas participações especiais de atores famosos da época: Hannah Cutrona como uma garota das cavernas adotada por Bobby como um animal de estimação, e Buddy Hackett como a voz de Louie, marido de Zilda e pai de Fran, que aparece para Zilda em um sonho.

O grande sucesso das duas primeiras temporadas garantiria a renovação para a terceira, que teria 22 episódios, exibidos entre 18 de setembro de 1992 e 2 de julho de 1993, começando por um dirigido por Brian Henson - e mais uma vez com a ABC exibindo tudo fora da ordem de produção, seguindo algum critério que só ela parecia saber qual era. A terceira temporada teria a participação especial do famoso ator Tim Curry como a voz de Henri Poupon, e terminaria com mais um clip show, esse imitando um infomercial, aqueles comerciais super longos que buscavam vender alguma coisa pelo telefone, que foram moda nos anos 1990; com testemunhos de clientes satisfeitos e fun facts sobre dinossauros - representados pelas cenas dos episódios já exibidos - Sir David Tushingham tentava vender um curso de paleontologia para que os espectadores pudessem entrar para esse glamouroso mundo estudando em casa.

Família Dinossauros ainda seria renovada para uma quarta temporada, que também começaria com um episódio dirigido por Brian Henson, mas, sofrendo de graves problemas financeiros, que culminariam em sua venda para a Disney, a ABC primeiro adiaria a data de estreia, depois exibiria apenas sete episódios, entre 1 de junho e 20 de julho de 1994. Ainda havia, entretanto, sete outros episódios gravados, que permaneceriam inéditos até a série entrar em syndication - ou seja, ser vendida para vários canais dos Estados Unidos, ao invés de passar apenas nas afiliadas da ABC. Esses episódios seriam exibidos pela primeira vez entre 6 de setembro e 10 de novembro de 1995, e, como a ABC mais uma vez exibiu os sete episódios que levou ao ar fora da ordem de produção, são ambientados antes do efetivo último episódio, que dá o encerramento à série. Todos esses 14 episódios são considerados parte da quarta temporada, que conta com participações especiais de Tim Curry, Michael McKean, Glenn Shadix, John Glover, Joe Flaherty e Ed Asner em vários papéis; caso a série não tivesse sido cancelada, Jacobs planejava usar sua popularidade para convidar cada vez mais astros da TV e cinema para essas participações, aumentando ainda mais seu valor.

Apesar de ser oficialmente um programa infantil apropriado para toda a família, Família Dinossauros tocava em temas espinhentos, sempre usando alegorias - em um dos episódios, por exemplo, Bobby não quis mais ser carnívoro e foi levado por um amigo a um "bar de herbívoros", em uma clara alusão a um adolescente descobrindo sua homossexualidade, e, em outro, Charlene estava revoltada porque as caudas de todas as suas amigas já haviam crescido e a dela não, uma referência às mudanças que ocorrem no corpo das meninas durante a puberdade. Alguns dos temas abordados em um ou mais episódios incluem ecologia, ambientalismo, preservação de espécies ameaçadas de extinção, feminismo e direitos das mulheres, direitos da comunidade LGBT+, abuso sexual, objetificação da mulher, censura, direitos civis, autoimagem, uso de anabolizantes, uso de drogas, masturbação, racismo, efeito manada, direitos das comunidades nativas e até mesmo os males do capitalismo. Segundo os produtores, eles só conseguiram fazer tudo isso graças à grande popularidade de Baby, que mantinha a audiência alta e o dinheiro entrando, não importando quais fossem os temas dos episódios - segundo Jacobs, "enquanto Baby estivesse batendo na cabeça de Dino com uma panela, nós poderíamos usar qualquer assunto".

A série também se tornaria famosa por ser uma das primeiras a fazer uma sátira da própria televisão: todos os programas de TV assistidos pela família ou mostrados ao longo dos episódios são exageradamente violentos, sensacionalistas, estimulam o consumo desenfreado e fazem troça de quem assiste muita televisão, mostrado como facilmente manipulável ou incapaz de pensar por conta própria. A série também seria uma das primeiras a "quebrar a quarta parede", com Baby frequentemente olhando para a câmera e usando frases que poderiam ser dirigidas a quem estava assistindo, embora também pudessem ser interpretadas como ele simplesmente falando em voz alta. Um dos episódios mais memoráveis foi o especial de Natal da segunda temporada, no qual os dinossauros comemoravam o Dia da Geladeira, em homenagem à invenção que permitiu que eles deixassem de ser nômades e se estabelecessem em cidades.

Por outro lado, um dos episódios mais controversos seria justamente o último ao ir ao ar na ABC: ao perceber que a série seria cancelada, os produtores criaram um último episódio no qual as ações dos próprios dinossauros estragaram o planeta de forma irreversível, trazendo uma Era Glacial que levaria à sua própria extinção - em uma clara crítica ao que os humanos estavam fazendo, já que o início dos anos 1990 foi justamente a época na qual a ecologia e a preservação do meio ambiente começaram a ganhar mais destaque, e as previsões mais tenebrosas de que o planeta não iria resistir caso o modo de vida da humanidade não fosse alterado começaram a ser feitas. Ao contrário de todo o restante da série, cheio de comédia e momentos felizes em família, o último episódio termina de forma triste e sombria - e bizarramente atual, já que estamos vivendo a época das mudanças climáticas e dos apelos para que a exploração desenfreada do planeta seja interrompida antes que nós mesmos estejamos em risco.
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